"Zana é uma mãe com todas as faculdades negativas e positivas que uma mãe pode ter". Assim Juliana Paes define a personagem que divide com Eliane Giardini e Gabriella Mustafá na minissérie "Dois Irmãos". Na obra baseada no livro homônimo de Milton Hatoum e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, ela é casada com o imigrante libanês Halim (Bruno Anacleto/ Antonio Calloni / Antonio Fagundes), e mãe dos gêmeos Omar (Lorenzo Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond) e Yaqub (Enrico Rocha/ Matheus Abreu/ Cauã Reymond).
A história de Zana começa quando ela ainda é uma mocinha de 15 anos e ajuda o pai no restaurante que ele mantém no térreo de seu sobrado, perto do Porto de Manaus. Ambientada em 1920, a primeira fase mostra o apaixonamento de Halim pela jovem, e a maneira como ele a conquista, declamando versos em árabe. Cristã, ela decide se casar com o muçulmano e o casal vai morar no sobrado de Galib (Mounir Maasri), por exigência da moça.
Na década de 30, os dois vivem intensamente sua paixão. Apesar de sempre ter deixado claro que não queria ter filhos, Halim cede mais uma vez ao ver Zana deprimida após a morte do pai. Apegada aos valores familiares e também por ter perdido a mãe ainda criança, ela se fragiliza com a perda e só volta a sorrir quando ele concorda em ter os três filhos que ela pede. Mas o comerciante se arrepende.
Zana tem preferência por um dos filhos
Já em sua primeira gravidez, Zana dá à luz gêmeos e recebe dois dos três filhos que queria. Omar, o filho apelidado de "caçula", por ser o segundo, nasce com dificuldades respiratórias e desperta na mãe um carinho exacerbado. Ela não percebe que enquanto mima seu preferido, aumenta a mágoa em Yaqub. A personalidade solar da personagem é potencializada pela maternidade, e colocando os gêmeos em primeiro lugar, em detrimento do casamento, ela passa a exercer seu domínio e poder de segregação no lar.
Rânia (Raphaela Miguel/ Letícia Almeida/ Bruna Caram), a terceira filha, cresce à sombra da mãe, pois Zana a vê como uma figura feminina cujo brilho de certa forma é ameaçador. Já adolescente ela perde um pretendente por causa da mãe e passa a desejar como uma espécie de homem ideal a mistura das personalidades dos irmãos mais velhos. A relação dos três, contudo, não chega a ser incestuosa, mas os conflitos familiares são, ironicamente, provocados pelo excesso de amor da mãe. Juliana Paes avalia: "Vejo a Zana como uma mulher de muita coragem, mas uma mãe que de fato sofreu por ter sentimentos tão diferentes por um filho e por outro".
A rivalidade entre os gêmeos se acentua com o passar do tempo, até que Omar corta o rosto de Yaqub por ciúmes, ao vê-lo aos beijos com Lívia (Monique Bourscheid/ Bárbara Evans). os dois deixam de se falar, até que Halim, decidido a selar a paz entre os filhos decide mandá-los numa viagem para o Líbano, em plena Segunda Guerra Mundial. Zana tenta relutar contra a resolução do marido, mas se vê sem outra alternativa que não levar os meninos para o embarque, no porto.
Os gêmeos se separam por causa da mãe
Só que, no último segundo, ela não consegue soltar a mão de Omar depois de deixar o outro filho ir. Yaqub viaja sozinho, e sofre uma transformação que terá consequências surpreendentes quando ele voltar para casa depois da guerra. Para Juliana Paes essa atitude da personagem acaba por defini-la, e por isso ela passou parte do processo de composição tentando entender seus motivos.
"Durante as filmagens, li um trecho do romance que dizia 'por algum motivo que ela nunca soube ou não quis explicar'. Esse não querer explicar é a Zana. Uma mulher consciente de que não se pode explicar os sentimentos que uma mãe tem. Ela, de fato, teve uma predileção. Nunca quis explicar, mas tinha um amor especial ou uma atração que não se explica por Omar. Existe algo na relação entre mãe e filho que é um mistério", afirma a atriz, que exibiu braços definidos na festa de lançamento da minissérie.
(Por Samyta Nunes)