Autor da novela "Babilônia", Gilberto Braga não esconde a decepção com a baixa audiência da trama das nove. "Até agora eu sofro a humilhação pública diária de perder para 'I love Paraisópolis'", lamentou em entrevista ao jornal "O Globo" referindo-se à trama das 19h que, na estreia, marcou a maior audiência do horário em 3 anos. O escritor se diz decepcionado pelo fato dos telespectadores não gostarem do folhetim: "É uma decepção muito grande. Escrevo achando que está bom e na Bahia e em Goiás dou 12 de audiência. O que é isso?".
Apesar disso, assume que faz todas as mudanças com gosto, já que seu objetivo não é chocar. "Não quero ser um autor maldito, quero ser um autor de sucesso", explicou. E assumiu que a rejeição reflete em problemas para a sua vida pessoal: "Tenho uma psiquiatra e quando estou deprimido converso com ela. Sou dependente de remédios, tomo muito Rivotril. Tomo remédio o tempo todo. O remédio me protege, mas tudo me atinge".
Segundo Gilberto, o fato de ter que reescrever os capítulos da novela para tentar agradar o público gera problemas com sua equipe e elenco: "Agora estou fazendo uma homenagem a Manoel Carlos. Entrego, e duas semanas depois os capítulos vão ao ar. Ainda não cheguei a Manoel Carlos, quase", detalhou, referindo-se ao autor de "Em Família" que tem por hábito escrever seus capítulos na última hora. Mas negou que suas protagonistas tem reclamado das mudanças. "Elas estão gravando demais, tive que jogar capítulos fora, e está todo mundo sacrificado. Mas o clima é amistoso", garantiu.
Autor acredita que Brasil está mais careta: 'Por que não pode peitinho de mulher?'
Para Gilberto Braga, grande parte de seus problemas com a trama se devem ao fato da nova mentalidade de grande parte da população. "O Brasil está mais careta, não tenho a menor dúvida. Quer a prova? Não pode ter nudez nem masculina nem feminina. Nos anos 80 tinha a bunda de um homem de fora na abertura de novela das 19h ("Brega & chique", de 1987). Hoje não poderia. Por quê? O Brasil encaretou. Por que uma bunda de homem choca? É a realidade que a gente está vivendo. Por que não pode peitinho de mulher? É tão agradável. Até eu que sou gay, gosto", disparou.
E explica a polêmica sobre o beijo protagonizado por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg logo no primeiro capítulo da história. "O beijo que eu escrevi era um selinho. Eu fiz a cena e lembro que botei selinho. Fernanda, que gosta muito da novela, sugeriu ao (diretor) Dennis Carvalho que fosse um beijo um pouco mais longo e romântico. Não chegou a ser chupão, mas ficou um beijo. Não estou dizendo que a culpa é da Fernanda porque todos nós vimos e gostamos. Então todo mundo é responsável. Ninguém viu nada demais naquele beijo", garantiu.
E contou que este início foi fundamental para que o público rejeitasse a trama: "Basicamente, a novela chocou por causa do beijo gay e porque tinha pouco amor e muito sexo. Mas não foi só o beijo. Foi incontável o número de pessoas com quem a Gloria Pires fez sexo. O primeiro capítulo tinha coisas chocantíssimas".
Vilã de 'Babilônia' não terá final feliz: 'Não aguento mais impunidade'
Ao contrário de "Vale Tudo", que acabou com uma banana dada por Marco Aurélio (Reginaldo Faria), o grande vilão, ao fugir do país, desta vez Gilberto Braga garante: Beatriz (Glória Pires) não terá um final feliz. "No final, a Beatriz vai ser presa ou vai morrer. Recebo muitos pedidos para ela matar a Maria José (Laila Garin) e ficar com o Aderbal. Mas não vou fazer isso. Ele também será punido. A banana do Marco Aurélio (de "Vale tudo") foi em outra época. Repeti a banana em "Insensato coração" (2011), mas o personagem foi preso. Eu não aguento mais impunidade", justificou.
E explicou que mudou a sexualidade do personagem de Marcos Pasquim para atender a um pedido de mulheres, entrevistadas em um grupo de discussão: "Elas tinham tesão pelo Pasquim e lamentaram o fato de ele ser gay na novela. Eu fiquei com pena das mulheres e botei ele para ser hétero. Mas vai entrar outro personagem para ficar com o Ivan (Marcello Melo Junior)", garantiu.
