Os gols e vitórias conquistados por Neymar em campo pelo Barcelona são inversamente proporcionais ao imbróglio enfrentado pelo craque fora dos gramados. De acordo com a revista "Época", no início de abril a Delegacia da Receita Federal, em Santos, abriu o processo de número 15983.720066/2015-65. Trata-se de uma representação fiscal para fins penais. O que significa que Neymar, que tatuou o rosto de sua irmã, Rafaella, no braço, terá parte de seus bens identificados e relacionados para pagar uma dívida com a Receita Federal. Essa representação fiscal para fins penais ainda será analisada pelo Ministério Público Federal.
Esta medida só é tomada pela Receita Federal quando ela constata que um contribuinte, além de sonegar impostos, também cometeu outros crimes. E de acordo com suspeitas do procurador da República Thiago Lacerda Nobre, de Santos, o pai de Neymar, além de empresas envolvidas na venda do jogador ao Barcelona são suspeitos de sonegação fiscal e falsidade ideológica.
Entenda o caso
Craque da Seleção Brasileira e do Santos, Neymar foi vendido para o Barcelona, de acordo com o time catalão, por € 57 milhões (R$ 188,5 milhões), valor considerado abaixo do mercado, já que o Real Madrid, por exemplo, teria oferecido ao jogador quase três vezes esse valor. O Ministério Público da Espanha investigou o caso e constatou que o Barcelona, na verdade, fez uma manobra para evitar o pagamento de impostos, já que Neymar custou ao time 66% a mais do que foi anunciado.
Para driblar os impostos, o Barcelona dividiu o valor pago a Neymar entre diversas empresas e prestação de serviços. Do valor total, R$ 132 milhões foram destinados à empresa N & N Consultoria Esportiva e Empresarial, administrada pelo pai de Neymar; R$ 56,5 milhões ao Santos; R$ 33 milhões ao próprio atleta; R$ 26,1 milhões para o Barcelona ter prioridade na contratação de outras três promessas do clube paulista; e R$ 8,2 milhões para o Instituto Neymar Jr., entre outros custos.
Quando essas informações vieram à tona, em 2014, Sandro Rosell, presidente do Barcelona na ocasião, renunciou ao cargo. Apesar disso, ele e Josep Maria Bartomeu, o novo presidente do clube, sentaram no banco dos réus acusados de terem praticado irregularidades na contratação de Neymar.
Investigações no Brasil
As investigações sobre o caso no Brasil começaram em março de 2014. Na ocasião, auditores pediram explicações a N & N Consultoria Esportiva e Empresarial, de propriedade dos pais de Neymar. O objeto de investigação neste caso foi a movimentação de R$ 115 milhões entre 2011 e 2014. Em sua defesa, a empresa da família do jogador afirmou que recebeu € 10 milhões (R$ 22,4 milhões) como empréstimo para o jogador não assinar contrato com nenhum outro clube após deixar o Santos. Em 2013 a N & N recebeu do Barcelona mais R$ 76,4 milhões e em outubro de 2014 outros R$ 16,2 milhões. Foi neste momento que a Receita Federal começou a investigar as cifras mais detalhadamente.
Paralelamente às investigações da Receita Federal, o procurador da República Thiago Lacerda Nobre interrogou o pai de Neymar em maio deste ano. Agora o Ministério Público Federal pode denunciar o Sr. Neymar da Silva Santos por falsidade ideológica, devido à suspeita de adulteração de documentos oficiais, além de crimes financeiros e tributários. Além disso, o pai do jogador teria recebido R$ 6,6 milhões teoricamente para monitorar os jovens que jogam nas divisões de base do Santos. No entanto os investigadores suspeitam que este valor também foi pago pela contratação do craque e que o pai dele apenas teria feito pesquisas na internet para justificar o valor recebido. Outro valor elevado, R$ 8,2 milhões, foi doado pelo Barcelona à fundação Neymar Jr. E segundo o Ministério Público Federal este montante também faz parte de transações irregulares.
De acordo com a revista "Época", Paulo Sehn, advogado de Neymar, não quis comentar o caso já que as investigações correm em sigilo. A Receita Federal também não se pronunciou. Até o momento, Neymar e seu pai estão apenas sob investigação e não foram acusados formalmente de nenhum crime.
