A cantora Ângela Ro Ro morreu aos 75 anos nesta segunda-feira (8), no Rio de Janeiro, após sofrer uma parada cardíaca durante cirurgia. Ícone da MPB, estava internada desde julho por complicações nos rins e pulmões. Em 1998, Ro Ro estampava as páginas da extinta revista Amiga contando sua volta por cima. Após anos marcados por dor, álcool e polêmicas, ela se dizia disposta a cuidar de si mesma e recuperar a força para cantar.
A artista, que já contou sobre seu sonho erótico, revelou que estava há oito meses sem beber e que, aos 48 anos, buscava encarar a chegada da maturidade com dignidade. "Estou com 48 anos e tentando encarar a terceira idade com dignidade. Sei que não posso correr atrás dos anos vividos, só contar. O bom é que agora estou cheia de vida", declarou em bate-papo à beira da piscina do Hotel Le Canton, em Teresópolis (RJ), onde passou um fim de semana de descanso.
Na época, Ângela estava acompanhada da então namorada Vanessa, de 19 anos, descrita como sua grande incentivadora. Foi ela quem ajudou a cantora a se reerguer após a morte do pai, em 1997. "Ela pintou na minha vida após a morte de meu pai. Dizia para ela olhar bem para mim e ver que estava perdendo tempo. Acabei me apaixonando e descobrindo que ainda tenho muito amor dentro de mim", contou.
Ângela admitiu que após a perda do pai chegou a se isolar e quase enlouqueceu de dor. "Dizia aos meus amigos que estava enlouquecendo de dor. Meu pai morreu de abandono, chamando por mim e eu não pude lhe socorrer", revelou emocionada.
A fase difícil coincidiu também com problemas na Justiça. Em 1997, Ro Ro foi indiciada por tentativa de incêndio no prédio onde morava em Copacabana e, segundo ela, até acusada de tráfico de cafeína. "Na verdade, são dois. Um por causa da suposta tentativa de incêndio e o outro uma acusação de ser traficante de cafeína. Dá vontade de rir, não? Todos que me conhecem sabem disso", disse, mantendo o bom humor apesar das acusações.
Entre lembranças dolorosas, a cantora ainda expôs mágoas de sua ex, a também cantora Zizi Possi. "Guardo mágoas da Zizi. Ela sabia que eu estava doente, mas mesmo assim me chutou."
Ângela não fugiu de questões delicadas e reconheceu que em alguns momentos chegou a reagir com violência. "Sim, mas foi defesa. Juro que não conseguia mais apanhar. Bati e apanhei muitas vezes." Ela relatou que sofreu mais agressões do que praticou e lembrou da surra mais marcante de sua vida, ainda na infância: "Eu estava com seis anos e ela quebrou um cabide nas minhas costas. Era histérica", disse sobre a mãe.
Os vícios com drogas, contou, já haviam ficado para trás. Sem contrato com gravadoras, sonhava em gravar um disco que misturasse jazz e samba e até em escrever um livro sobre sexo. Mas a prioridade era outra: recuperar a autoestima. "Fiquei com medo de não aguentar o bom humor. Mas, graças a Deus, a esperança continua."
O ar puro da serra de Teresópolis pareceu trazer alívio e leveza. No hotel, Ângela posou à vontade, caminhou entre os jardins, brincou com cavalos e relaxou à beira da piscina. À repórter Angélica Basthi, deixou claro que não tinha nada a esconder: "Minha vida sempre foi um livro aberto."
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