Depois do último Dia dos Namorados, celebrado em junho no Brasil, vieram a público dados de uma pesquisa realizada em 2023 pela empresa de estudos de mercado Ipsos, que analisou a vida amorosa no Peru.
O levantamento mostrou que 83% dos peruanos afirmaram se sentir amados em seus relacionamentos, um índice elevado que sugere que a maioria das pessoas consegue reconhecer o afeto e o cuidado demonstrados por seus parceiros.
Apesar do resultado positivo, o estudo não se aprofundou em um momento específico das relações: a fase do apaixonar-se. Marcado por sensações como ansiedade, euforia e impulsividade, esse estágio costuma ser visto como imprevisível, já que ninguém sabe exatamente quando - ou por quem - vai se apaixonar.
Ainda assim, nos anos 1990, dois psicólogos norte-americanos desafiaram essa ideia ao desenvolver um questionário que prometia estimular a criação de vínculos emocionais intensos entre duas pessoas.
A proposta por trás do experimento ficou conhecida mundialmente como as “36 Perguntas para se Apaixonar”. A premissa é simples, mas curiosa: responder a uma sequência estruturada de perguntas poderia ajudar dois desconhecidos a desenvolver intimidade emocional. O questionário foi criado em 1997 pelos psicólogos Arthur Aron, Elaine Aron e outros pesquisadores da Universidade Stony Brook, em Nova York.
O objetivo do estudo era investigar se a proximidade emocional poderia ser construída a partir da troca gradual de informações pessoais. Os próprios autores ressaltaram que a intimidade gerada pelo exercício não garantia, necessariamente, o surgimento imediato do amor, tampouco um relacionamento duradouro. Ainda assim, a expectativa era que algum tipo de conexão significativa se estabelecesse entre os participantes.
Em um dos testes mais conhecidos, um homem e uma mulher heterossexuais responderam às 36 perguntas e, ao final, permaneceram quatro minutos em contato visual contínuo. O resultado chamou atenção: seis meses depois, os dois estavam casados.
Apesar disso, o experimento levou quase dez anos para ganhar repercussão mundial. A popularização ocorreu em 2015, quando a escritora Mandy Len Catron publicou um ensaio na coluna Modern Love, do New York Times, relatando sua própria experiência ao responder ao questionário com um conhecido, com quem acabou se casando posteriormente.
Atualmente, o teste é bastante usado nos Estados Unidos, tanto em primeiros encontros quanto em terapias de casal. Muitos especialistas o recomendam como uma ferramenta para estimular reconexão emocional entre parceiros.
As perguntas são divididas em três blocos, cada um mais profundo do que o anterior. A lógica por trás do método está relacionada à vulnerabilidade compartilhada. Segundo a dupla Aron, “um fator-chave associado ao estabelecimento de um relacionamento próximo entre iguais é a abertura contínua, gradual e recíproca de si mesmo”.
A ideia é que, ao se permitir ser vulnerável, cria-se um ambiente propício para a proximidade emocional.
O processo é simples: as perguntas devem ser respondidas na ordem, da 1 à 36, com cada pessoa falando na sua vez. Não há um tempo rígido para a atividade, mas estima-se que todo o questionário leve cerca de 45 minutos para ser concluído.
- Se você pudesse escolher qualquer pessoa no mundo, quem você convidaria para jantar?
- Você gostaria de ser famoso? De que forma?
- Antes de fazer uma ligação, você ensaia o que vai dizer? Por quê?
- Como seria um dia perfeito para você?
- Quando foi a última vez que você cantou para si mesmo? E para outra pessoa?
- Se pudesse viver até os 90 anos mantendo a mente ou o corpo de alguém de 30 anos pelos últimos 60 anos, qual escolheria?
- Você tem um pressentimento secreto sobre como vai morrer?
- Cite três coisas que vocês aparentemente têm em comum.
- Pelo que você é mais grato(a) na vida?
- Se pudesse mudar algo na forma como foi criado(a), o que seria?
- Conte a história da sua vida em quatro minutos.
- Se pudesse acordar amanhã com uma nova habilidade ou qualidade, qual seria?
- Se uma bola de cristal pudesse revelar a verdade sobre você, sua vida ou o futuro, o que gostaria de saber?
- Existe algo que você sonha fazer há muito tempo? Por que ainda não fez?
- Qual é a sua maior conquista?
- O que você mais valoriza em uma amizade?
- Qual é sua lembrança mais querida?
- Qual é sua lembrança mais dolorosa?
- Se soubesse que morreria repentinamente em um ano, mudaria algo na forma como vive hoje? Por quê?
- O que amizade significa para você?
- Qual o papel do amor e do afeto na sua vida?
- Alternem-se dizendo cinco qualidades da outra pessoa.
- Sua família é próxima e afetuosa? Sua infância foi mais feliz que a da maioria?
- Como é sua relação com sua mãe?
- Façam três afirmações verdadeiras usando “ambos”.
- Complete: “Eu gostaria de ter alguém com quem pudesse compartilhar…”
- Se se tornarem amigos íntimos, o que seria importante que a outra pessoa soubesse sobre você?
- Diga honestamente o que você gosta na outra pessoa.
- Compartilhe um momento constrangedor da sua vida.
- Quando foi a última vez que chorou na frente de alguém? E sozinho(a)?
- Diga algo que você admira na outra pessoa.
- Existe algo sério demais para virar piada?
- Se morresse esta noite, do que se arrependeria de não ter dito?
- Se sua casa estivesse em chamas, o que salvaria e por quê?
- Qual morte na sua família seria mais perturbadora?
- Compartilhe um problema pessoal e peça conselhos à outra pessoa.
Apaixonar-se é uma vivência emocional intensa, marcada por forte atração, idealização e desejo de proximidade. Nessa fase, são comuns sentimentos de euforia e ansiedade, impulsionados pela liberação de dopamina, substância associada ao prazer e ao bem-estar.
Durante esse período, há uma tendência a valorizar as qualidades da outra pessoa e minimizar possíveis defeitos. Embora geralmente seja uma etapa passageira, o apaixonar-se pode servir de base para relações mais profundas.
Paixão e amor romântico representam momentos distintos de um relacionamento. A paixão envolve intensidade emocional e atração física, sustentadas pela idealização e pela ação de hormônios como a dopamina. Já o amor romântico se constrói com o tempo, apoiado em confiança, respeito, compromisso e apoio emocional mútuo.
A vulnerabilidade é considerada um pilar fundamental para conexões autênticas. Ao compartilhar inseguranças, sentimentos e medos, os parceiros criam um ambiente de empatia e confiança. Esse processo também contribui para a resolução de conflitos e o fortalecimento do vínculo emocional.
A dopamina, conhecida como o “hormônio do prazer”, tem papel central nesse contexto. Ela intensifica sensações de felicidade e motivação, reforçando o desejo de proximidade. Com o tempo, seus níveis podem diminuir, mas isso não significa o fim do amor — apenas a transição para uma relação mais estável e madura.