Já é de praxe: basta Luizinho aparecer em cena na novela “História de Amor”, exibida originalmente em 1995 e reprisada na TV Globo pela segunda vez, que uma matéria que responde à pergunta “Por onde anda André Ricardo?” volta a despontar em nosso ranking de mais acessadas.
A repercussão dessa matéria dá início a um processo de inquietação - e mea-culpa - com a certeza de que aquele texto não respondia mais corretamente à curiosidade do público sobre o ex-ator mirim.
Quase 11 anos se passaram desde a última vez que André deu entrevista a um veículo de imprensa. Com o sucesso da reprise, estávamos convencidos de que seria uma ótima oportunidade de convencê-lo a dar novas declarações.
O primeiro problema é que ele não está nas principais redes sociais. O isolamento é tanto que deixou a impressão de que ele preferia não ser encontrado. A pista de por onde André anda veio através do LinkedIn, onde ele ainda mantém um perfil, encontrado por minha editora depois de muitas abas abertas no navegador. A primeira surpresa foi descobrir que ele não atua mais como advogado, informação que constava na matéria de 2014, ainda replicada à exaustão por colegas - e por nós.
Assim que André aceita meu convite de amizade na rede corporativa, envio uma mensagem cheia “de dedos”, com muitos pedidos de desculpas por uma possível invasão e convicto de que a resposta para minha proposta de entrevista seria um sonoro “não”. Ledo engano: o convite foi aceito e com a alegria de alguém que finalmente teria suas informações atualizadas.
“Eu já fui no ‘Por onde anda?’, do ‘Video Show’, já fiz reportagens de ‘por onde anda?’. Eu sempre brinco que daqui a pouco vai ter um ‘Por onde ainda anda?’ e um ‘Será que ainda anda?’”. São 30 anos de reportagens”, brinca André, nos primeiros minutos da nossa conversa por telefone, marcada coincidentemente na mesma hora em que a TV da nossa redação exibia “História de Amor”.
De cara, busco a resposta para a pergunta que atormenta o Google durante a novela. André me responde, mas não sem antes fazer um apanhado detalhado e orgulhoso de sua trajetória como ator.
“A minha história se entrelaça muito com a da minha irmã”, ele repete algumas vezes. André é irmão de Carmen Caroline, a Ximena de "Sonho Meu". “Minha mãe viu um anúncio de um comercial d'O Bicho Comeu, a loja de roupas da Xuxa. Minha irmã, superfã, foi fazer o teste. E eu era criança, então, não tinha com quem me deixar e eu fui junto. Quando cheguei, acharam que eu ia fazer o teste também. Acabou que eu e minha irmã passamos juntos.”
A carreira artística, no entanto, nunca foi sonho. “Eu sou supertímido, não sou aquele cara extrovertido. Eu demoro um pouco a me sentir à vontade”, diz. Na curta trajetória, André estrelou comerciais, trabalhou com dublagem e fez projetos de sucesso na TV Globo e nos cinemas - entre os preferidos, ele elege a novela “Corpo Dourado” e o filme “Villa-Lobos - Uma Vida de Paixão”, protagonizado por Antônio Fagundes e Marcos Palmeira.
Mas “História de Amor” tem um lugar especial em sua memória afetiva. “Eu olho com muito saudosismo”, admite. Não são apenas as buscas no Google que aumentam quando a novela está no ar. André relata que é ainda reconhecido nas ruas, mesmo com a fisionomia bem diferente da exibida nas reprises.
“Eu estava em um estacionamento em Nova Iguaçu [cidade do Rio de Janeiro onde reside], a moça parou, olhou assim… ‘Vem cá, eu te conheço de algum lugar. Você não é o garotinho da novela?’. É sempre assim. Ou então, tô em algum lugar almoçando e o pessoal: ‘Você não fez a novela?’. Sempre lembram. Honestamente, não sei como. Acho que mudei um pouquinho e o pessoal reconhece até hoje. Acho muito gratificante.”
André não mantém contato com nenhum colega do elenco do folhetim, mas se lembra com carinho de nomes como José Mayer, Carla Marins e, claro, Nuno Leal Maia, seu pai Edgar na trama. “Eu era fissurado no Nuno, uma pessoa incrível comigo”, relembra.
Regina Duarte era uma estrela que causava certo deslumbre naquele jovem. “Eu olhava pra ela e parecia que eu estava vendo um ET. Na época, ela estava no auge. Ela era incrível, uma atriz incrível e uma pessoa maravilhosa.”
A experiência de André se distancia de outras estrelas dos anos 1990 e 2000 quando o assunto é o impacto psicológico de uma carreira tão precoce. Sem deslumbres com ser um global, ele atribui esse cenário ao apoio incondicional dos pais. “O maior legado que meus pais me deixaram foi questão de educação e suporte”, destaca.
O apoio da mãe foi essencial para que ele permanecesse firme na escolha de desistir do papel principal no filme “Central do Brasil”, indicado ao Oscar em 1999. Ele afirma que chegou a ensaiar com Fernanda Montenegro, mas discordâncias com o cronograma de trabalho o afastaram da produção.
“Tinha que abdicar de muita coisa que eu não estava disposto na época. Cheguei a passar no teste. Na hora de fazer, falei pra minha mãe que não queria. Minha mãe me deu todo suporte”, recorda André, que garante não guardar nenhum tipo de remorso por não ter feito um filme de prestígio mundial. “Só não era pra ser.”
André se afastou da atuação à medida em que crescia e os convites para novos papeis escasseavam, algo nada incomum entre jovens estrelas. A última aparição na Globo foi em 2001, após uma breve participação na novela “O Clone”. “Quando o pessoal pergunta por que eu não faço mais novelas, eu sempre brinco e falo: ‘é porque cresci e fiquei feio’ (risos).”
Brincadeira à parte, André avalia que a mudança na aparência foi mesmo determinante para o fim dos convites. “Minha fisionomia não acompanhou minha idade. Eu tenho 39 anos e o pessoal me olha e fala: ‘você tem 28, 30’. Eu não sei até que ponto isso é bom hoje em dia. Na época, não foi tão positivo assim.”
Com 17 anos, entrou para a faculdade de Direito e levou a irmã junto - os dois estudaram na mesma sala. “Eu sempre tive medo de não ter uma profissão. Eu queria que [a carreira artística] desse certo, mas não deu, então, fui tentar outra coisa”, explica. Se na televisão, os caminhos dos irmãos foram bem parecidos, na advocacia, a coisa se desenrolou completamente diferente.
Carmem, hoje, é professora universitária e atua como superintendente jurídica na Secretaria da Mulher em Nova Iguaçu. Já André ficou “saturado" de trabalhar com cálculo trabalhista e departamento pessoal e preferiu mudar de área. “Eu fiquei decepcionado com a profissão, pra ser totalmente honesto, e comecei a procurar outras áreas”, conta.
Atualmente, André trabalha no setor do e-commerce, com foco em Gestão de Relacionamento com o Cliente (CRM, na sigla em inglês). O trabalho focado em centralizar dados, personalizar ofertas e fortalecer a fidelização por meio de estratégias baseadas no comportamento de compra.
Ele é um dos responsáveis pelo Clube CS+, da Casa de Sabão, uma rede de supermercados com 17 lojas na Baixada Fluminense. O convite veio através de um amigo de infância, que enxergou nele o potencial para a área.
Já na esfera pessoal, André é noivo de Jenifer e se derrete ao falar dos dois afilhados. Antes de encerrar o telefonema, lembrei que, em 2014, ele declarou que “nunca diria nunca” sobre retornar à televisão. Apesar de não rejeitar a ideia, a nova resposta traz a perspectiva de alguém que tem orgulho, mas não encara o passado com melancolia.
“Eu não sou de cuspir pro alto. Eu sou muito grato pela minha história. Mas, no momento que eu tô, eu não vejo oportunidade. Eu acho que é um ciclo que se encerrou e só deixa memórias boas. Antigamente, eu tinha vergonha de me ver. Agora, eu adoro.”
