





Quem escuta 'Morena', 'O Sol' ou 'Pupila', algumas das maiores músicas da carreira de Vitor Kley, nem imagina o está por vir em seu mais novo álbum, 'As Pequenas Grandes Coisas'. De volta e mais maduro do que nunca ao longo de 11 faixas e 34 minutos, somos apresentados a grandes lições de vida, casos antigos de amor e os prazeres de valorizar os pequenos tijolos que compõem a nossa história.
Entre estilos musicais que compõem o álbum e vão do samba ao soul e pop, e muito pouco dos refrãos chicletes, Vitor Kley nos apresenta uma versão ainda mais intimista do que foi com 'A Bolha', um álbum cheio de significado que trouxe reflexões importantes para uma época em que a vida era uma grande incerteza.
E é neste ritmo que Vitor Kley bateu um papo com o Purepeople antes do lançamento do disco. Leve, pé no chão e com a humildade de um cara que valoriza cada pequena coisa de sua vida, o artista falou sobre o projeto que dita a próxima cor do arco-íris de sua vida.
É em 'As Pequenas Grandes Coisas' que tudo muda para quem já está acostumado com o som de Vitor Kley e se permitiu ir além dos grandes sucessos do artista. Seu último álbum, 'A Bolha', chegou ao mundo em junho de 2020 com canções já mais intimistas e inspiradoras, mas agora o artista está diferente.
Purepeople: Mais de 4 anos separam seus últimos projetos. O que mudou do Vitor Kley de 'A Bolha' até 'As Pequenas Grandes Coisas'?
Vitor Kley: "Muita coisa mudou... a gente tem que evoluir, trazer algo novo para as pessoas que gostam da gente, e eu vejo que ‘As Pequenas Grandes Coisas’ vêm na hora certa, com a minha certeza absoluta de que era isso que eu queria. Primeiro, é um ato de coragem, porque a gente enfrenta uma barreira e mesmo tendo medo falamos: ‘vamos fazer isso’, vamos escolher as pessoas para trabalhar, escolher a cor, o conceito. Eu me auto sabotava muito antes, e agora estou presente na produção, no conceito, nas composições e canções".
Esta é a primeira vez que Vitor Kley faz parte do '360' de um álbum, e a diferença é notória. 'As Pequenas Grandes Coisas' traz a essência íntima do cantor em cada canto, verso e ensinamento de vida. E, para o artista, essa foi uma experiência e tanto.
VK: "Cara, foi muito legal e eu confesso que, claro, é muito trabalho. Mas foi tão leve... me senti tranquilo e é uma coisa muito maluca, porque eu nunca tinha sentido isso antes em outros projetos. Sempre ficava com alguma dúvida, mas nesse eu tive a total certeza que era para ser assim. Estou muito feliz de poder estar realizando isso".
'As Pequenas Grandes Coisas' têm muitos pontos altos que merecem destaque. Entre o refrão chiclete de 'De Novo' à melodia envolvente de 'Carta Marcada' e o refrão explosivo de 'Uma Porrada de Problema', é 'Vai Por Mim', a penúltima música do álbum, que te tira lágrimas sinceras - vai por mim.
Quando compôs 'Vai por Mim', Vitor Kley, só pensava em seu pai. Ivan Kley já havia sido homenageado em 'Farol' e voltou em escritos sensíveis, desta vez ilustrando um pedido de força para o ex-tenista, que lutava contra a depressão e faleceu no último dia 03 de abril de 2025, aos 66 anos, de tromboembolismo pulmonar.
Ivan Kley não teve a oportunidade de escutar 'Vai por Mim' finalizada e de presenciar os versos tão marcantes do filósofo Clóvis de Barros, que recita, já no fim ao som de um instrumental aconchegante, lições valiosas sobre o amor e a alegria de viver as pequenas grandes coisas da vida:
“Nossa vida vale pela capacidade de amar / E pela sorte de ser amado / A alegria é vontade de continuar / A alegria indica a direção da vida / Façamos de modo a viver instantes / Instantes tão preciosos / Tão mágicos / Que queiramos que se repitam eternamente”.
Vitor Kley: "Quando eu escrevi essa música, eu imaginava que ia acontecer o que aconteceu dentro dessas últimas semanas. Meu pai virou uma estrela de vez. E eu tenho a impressão de que era para ser assim. Era para eu estar aqui falando isso, levando a energia dele comigo no colar, no relógio. Quando eu criei [a música], eu esperava um dia poder mostrar para ele em vida, que pudesse ter um efeito de cura nele, que ele fosse ouvir aquilo e pensar: 'putz vou levantar, vou sair dessa depressão e vou vencer'. Mas acabou que a chance que eu tive de mostrar 'Vai por Mim' para ele foi no velório dele. Essa foi a última chance que eu tive, e logo pensei com o meu irmão em colocá-la para ele ouvir"
VK: "Por muito tempo eu fiquei com essa música na mão e eu queria mostrar para ele extremamente pronta. Eu também tinha muito receio do que ia acontecer com ele quando ele ouvisse a música, já que ele estava em questões de muito sofrimento e poderia ter um efeito contrário do que a gente pensava. Mas a vida quis que fosse assim, e hoje eu vejo que essa homenagem, com a fala do Clóvis de Barros no fim da canção, tem uma potência ainda maior do que antes. Eu acho que meu pai está muito orgulhoso lá do alto, e que as pessoas que passam por isso, ou que tem alguém passando por isso, vão sentir uma energia muito maior, que é a energia da canção e a energia do meu pai junto nela".
Vitor Kley sai da emoção de 'Vai por Mim' para celebrar as pequenas coisas da vida em 'Arco-Íris', a última música do álbum – e sua favorita do projeto, por sinal. Com versos convidativos para uma reflexão conjunta, a canção cresce a cada instante até chegar a um verso final cheio de instrumentais e, de fato, encerrar o álbum nas alturas.
Purepeople: Você termina o álbum falando que 'encontrou o pote de ouro', em alusão à história de que, no fim do arco-íris, existiria um pote de ouro. O que você diz dizer com esse trecho, cantado a plenos pulmões na música?
Vitor Kley: "Esse pote de ouro ele é definitivamente a pequena grande coisa, ele não é uma coisa grande como alguns seres humanos veem, ele não é uma matéria... ele representa os simples gestos, é entender que a gente tem pessoas que a gente ama e que temos que dar valor, é entender que a gente acordar e poder respirar é algo muito precioso. Em 'Arco-Íris', o pote de ouro representa tudo o que eu vivi ao longo do álbum: um fim de ciclo, de relacionamento, até entender que precisava iniciar algo novo. Eu entendi que as pequenas grandes coisas são o que dão sentido à nossa vida".
PP: seu álbum tem grandes músicas e com pontos altos que deixarão uma grande marca em sua carreira. Por que 'Arco-Íris' é a sua favorita entre todas as outras músicas?
"Não é só porque eu digo que encontrei o pote de ouro, mas porque eu amo tudo o que foi colocado nela... a parte instrumental, os arranjos. Fiz essa música com o produtor Felipe Vassão e trabalhamos diversos instrumentos, e no fim ela é tão simples, mas tão grandiosa ao mesmo tempo, que eu acho que resume todo o álbum".
Vitor Kley tem muito a dizer em suas canções. Desde valiosos ensinamentos de vida até ocorridos do cotidiano, o cantor vê a composição como uma forma de lidar com seus sentimentos e inspirar outras pessoas que também se encontram neles.
Purepeople: Como você lida com seus sentimentos e os filtra para colocar em composições?
Vitor Kley: "Eu sempre vou deixando vir os sentimentos, não vou bloqueando eles. Eu vou escrever sobre o arco-íris, sobre o batalhador que está indo atrás dos sonhos... eu vou escrever sobre minhas paixões, sobre a minha família, sobre algo que eu vi na sua vida. E o legal é que neste processo criativo ninguém me bloqueia, todo mundo sabe que vai sair de tudo e depois a gente vê o que vai acontecer com essas músicas".
Já no final da entrevista, Vitor Kley nos cita que uma das grandes alegrias de sua vida é conversar com pessoas que conhecem e valorizam sua obra. Mais uma vez, esta pequena grande coisa faz com que a jornada de um músico valha a pena em todos os sentidos. Para o artista, há uma frase de Van Gogh que dita perfeitamente seus sentimentos:
"Uma grande coisa é construída por uma sequência de pequenas coisas. Então, é um passinho de cada vez... um pouquinho aqui, um pouquinho ali, que a gente constrói grandes coisas na vida".