Em 'A Viagem', o ator Felipe Martins ganhou destaque como o rebelde Tato, filho de Otávio Jordão (Antonio Fagundes). Nos momentos finais da novela, o jovem motoqueiro começou a ser perseguido pelo espírito maligno de Alexandre (Guilherme Fontes), o que lhe fez cometer maldades com a família.
Na época, o ator, que tinha 35 anos, precisou compor um personagem que aparentava recém sair da adolescência, o que lhe fez usar técnicas artísticas.
"Eu tinha 35 anos, e o personagem, entre 18 e 19. Tive que criar todo um comportamento que aparentasse menos idade, desde o olhar até a expressividade. Trabalhei até no tom da voz, deixando mais leve e inocente. Foi quase uma desconstrução da minha experiência de vida para parecer convincente naquela juventude", contou em entrevista à coluna Play, do jornal O Globo.
Em uma de suas cenas marcantes, o personagem comprou uma moto de Alexandre, na qual pilotava 'sozinha'. O ator explicou na entrevista o truque utilizado pela equipe da Globo para realizar o efeito tenso.
"Aquilo foi tudo manual. Parecia trabalho de marionete, sabe? Nada de tecnologia, tudo feito com truques clássicos de coxia, usando sombra, luz e efeitos artesanais. Parecia um número de mágica, mas bem feito, dentro do possível da época. Foi um trabalho super criativo da equipe, como mágica de ilusionista"
Ao longo da trama, o personagem mantinha amizade com o pai e o irmão, mas suas atitudes começaram a mudar diante das constantes interferências de Alexandre. Felipe revelou que essa transformação, marcada pela agressividade do papel, acabou refletindo fora das telas, quando chegou a sofrer situações hostis nas ruas
"Uma vez, fui comprar um biscoito no supermercado e uma senhora muito idosa, com uma bengala, simplesmente arrancou o pacote da minha mão. Ela me olhou furiosa e disse: 'Você é muito mau com seu irmão mais novo'. Eu não sabia se ria ou explicava. Falei: 'Mas senhora, isso é televisão, é novela.' E ela respondeu: 'Ah, mas mesmo assim, não precisava ser tão bem-feito'", comentou.
Longe da TV há 11 anos, Felipe Martins mora em Teresópolis, no Rio de Janeiro, e dá aulas de interpretação. Ele deseja voltar à TV e tem projetos para o teatro.
"Tenho alunos de todas as idades, de 6 a mais de 70 anos. A primeira aula é sempre gratuita, para ver se é realmente o desejo da pessoa. Muitas vezes, principalmente com crianças, o interesse vem por imposição dos pais, e a criança não está à vontade. Aí, conversamos para entender se há interesse real. Não dá para obrigar ninguém a atuar, né? Atuar é entrega, é paixão e tem que vir de dentro."