





Os fãs de novela e os nostálgicos de plantão viveram um verdadeiro déjà-vu nos últimos dias. Com a ida de Virgínia Fonseca à CPI das Apostas Esportivas, em Brasília, foi impossível não lembrar de um momento clássico da teledramaturgia brasileira: a cena da Bebel, em "Paraíso Tropical" (2007), enfrentando uma CPI fictícia, com carão, frases desconexas e um olhar mais interessado nas câmeras do que nos senadores.
Na web, a comparação foi imediata. Afinal, como ignorar o paralelo entre a influenciadora que foi tietada durante o depoimento e a ex-garota de programa que sonhava em ser famosa e aproveitou a CPI dos Biocombustíveis para seu grande momento no horário nobre?
Na trama das nove da Globo, Bebel é uma ex-garota de programa que se casa com um senador envolvido em esquemas de corrupção. Convocada para depor numa CPI dos Biocombustíveis, ela aproveita cada segundo sob os holofotes.
"Se tem alguém debochada aqui, não sou eu!", diz, entre uma piscadela para as câmeras e uma provocação aos parlamentares. Em vez de esclarecer qualquer coisa, Bebel se mostra mais preocupada com sua imagem do que com o conteúdo do depoimento. Ela fala em posar nua, agradece a atenção e solta frases completamente fora de contexto!
A cena, que na época foi celebrada como sátira à espetacularização da política, hoje ressurge com gostinho de premonição...
Quase 18 anos depois, a vida tratou de repetir o roteiro. Com direito a entrada triunfal, copo rosa personalizado e virais, Virgínia Fonseca transformou seu depoimento no Senado em trending topic. O conteúdo do que foi dito quase se perdeu em meio aos memes, às reações desconcertadas e à sensação de que, mais do que uma oitiva, aquilo era um crossover entre Brasília e o Instagram.
A esposa de Zé Felipe e rosto de campanhas milionárias para casas de apostas, foi convocada a depor na CPI das Apostas Esportivas. O que era para ser um momento de esclarecimento sobre a influência de celebridades nesse mercado virou, segundo internautas, um “circo”, nas palavras de um dos perfis mais compartilhados.
Logo na chegada ao Senado, Virgínia mostrou que o tom seria tudo, menos sóbrio. Em sua fala inicial, pediu: “Que Deus abençoe nossa audiência e bora pra cima!”. No decorrer da sessão, colecionou frases vazias (“Se for para melhorar, é melhor”), gafes (“chupou” o microfone achando que era canudo) e contradições éticas, como afirmar que não promoveria drogas caso legalizadas, mas amenizar, de certa forma, a problemática da publicidade de apostas.
Se na novela a postura de Bebel escandalizou os senadores fictícios, na vida real a recepção foi, em muitos momentos, constrangedoramente cordial. O senador Cleitinho Azevedo, por exemplo, pediu vídeo para esposa e filha, elogiou o pré-treino da influenciadora e ainda quis uma selfie com a depoente. A cena foi duramente criticada por reduzir uma sessão parlamentar à tietagem explícita.
Na época de Paraíso Tropical, a cena da CPI de Bebel foi vista por muitos como um exagero folhetinesco. Hoje, ressurge como um aviso ignorado. “A Bebel à frente do seu tempo, prevendo o que aconteceria no Brasil quase 20 anos depois”, escreveu um perfil no X. Outro completou: “A diferença é que aí os profissionais ficaram bravos por tamanha falta de postura, já na Virgínia teve até deputado levantando para tirar foto".
Camila Pitanga, intérprete de Bebel, não comentou o caso até o momento, mas a personagem, que virou ícone da teledramaturgia por escancarar a hipocrisia e o jogo de interesses no poder, parece mais atual do que nunca!