






O novo documentário de Anitta, "Larissa: O Outro Lado de Anitta", estreou na Netflix na última quinta-feira (6) e rapidamente alcançou o 6º lugar no Top 10 Brasil. A produção traz detalhes inéditos da vida da cantora, explorando sua trajetória desde a infância até o estrelato global. Este é o terceiro documentário da artista na plataforma, que já lançou "Vai Anitta" (2018) e "Anitta: Made in Honório" (2020). Diferente dos anteriores, que focavam nos bastidores da fama, esta nova produção mergulha, ou pelo menos tenta, na identidade de Larissa de Macedo Machado, revelando suas vulnerabilidades e desafios emocionais por trás da persona Anitta.
A narrativa do documentário ganha um toque ainda mais pessoal com a voz de Pedro Cantelmo, um antigo amor da cantora na adolescência. Além de assinar a direção, é ele quem conduz as filmagens, trazendo uma perspectiva íntima sobre a história da artista. Nascido e criado em Honório Gurgel, subúrbio do Rio onde Anitta cresceu, Pedro reacendeu o romance com a cantora durante as gravações do projeto, o que adiciona uma camada no mínimo curiosa à narrativa.
O filme apresenta relatos íntimos sobre a relação da artista com sua família, os desafios da carreira e as dificuldades emocionais que enfrentou ao longo do caminho. Mas, mais do que uma biografia, a obra levanta questões sobre a construção de uma personagem pública e os impactos psicológicos dessa performance contínua.
Para a psicanalista Ana Lisboa, especialista em saúde mental feminina, a história contada no documentário reflete um processo comum a muitas mulheres que criam personagens para lidar com as dificuldades da vida.
"A primeira coisa que a gente precisa observar é a raiz disso tudo. Ela vem de um lugar de pobreza, onde o pai passa por dificuldades financeiras e, já muito nova, ela se vê obrigada a resolver problemas que são de adulto e não de criança, como conseguir pagar a escola", explica Lisboa.
A psicanalista destaca que a criação da personagem Anitta foi um mecanismo de defesa fundamental para que Larissa conseguisse enfrentar a realidade difícil da infância.
"Ela percebe que, mesmo se sentindo inferior perto das outras meninas, existe algo que ninguém pode tirar dela: o carisma. E é ali que ela sobe ao palco e acontece o que a gente chama de dissociação", analisa.
A dissociação, segundo Lisboa, é um mecanismo de sobrevivência comum em crianças expostas a situações de forte impacto emocional. "Ela cria uma nova personalidade, uma máscara de ego, para sobreviver. Se ela performa, se ela aparenta segurança, ela conquista o que precisa e se sente protegida".
O documentário também aborda os momentos de vulnerabilidade de Larissa, principalmente em seus primeiros relacionamentos afetivos e situações de abuso. "A psique vai se fragmentando e, para cada situação de dor, nasce uma nova camada de defesa. Esse personagem cresce, se fortalece e vira um escudo para proteger o que é mais vulnerável", explica Lisboa.
Outro ponto central da análise é a relação de Anitta com o controle excessivo sobre sua carreira e sua vida. "Estar sempre à frente da equipe, dos shows, da agenda, de absolutamente tudo, é uma forma de garantir que ninguém vai chegar perto dessa vulnerabilidade. Por trás dessa postura de comando existe uma insegurança profunda e um medo constante de perder o controle", afirma.
Uma carta escrita por Anitta quando criança para sua mãe, Miriam Macedo, viralizou na internet na última semana após a estreia do documentário da cantora, “Larissa: O Outro Lado de Anitta”.
No texto, ela reclama da atenção que sua mãe dá para o irmão, Renan Machado, e do tratamento que ela mesma recebe: “Mãe, queria que você me desse mais atenção. Você quando vai dormir dá mil beijos no meu irmão e me dá só um abraço. Fala para ele que ele é lindo, maravilhoso, e que ele é seu gato, seu lindo, e fala que eu estou normal. Briga só comigo e não briga nem um pouco com ele”.
A psicanalista também destaca como a relação com a mãe influenciou a construção dessa identidade forte e independente. "Existe uma ferida materna muito presente. As mães que, por suas próprias dores e histórias, não conseguem expressar afeto ou validação criam filhas que vivem para provar que são boas o suficiente".
Porém, para Lisboa, o que torna a trajetória de Anitta diferente é sua consciência sobre esse processo. "Ela percebeu que precisava salvar Larissa para não ser engolida pelo próprio sucesso. Muitos artistas sucumbem a esse ciclo. Ela, ao contrário, parou e olhou para a Larissa. Percebeu que a Larissa criou a Anitta, e não o contrário. Esse momento em que ela reconhece que precisa cuidar da menina Larissa é o ponto de virada para a cura".
Nas redes sociais, a recepção do público ficou dividida. Enquanto alguns elogiaram a abordagem autêntica e emocionante do documentário, outros consideraram a narrativa exagerada e artificial.
"Nunca fui fã da Anitta, mas esse documentário me fez respeitá-la muito mais", destacou um usuário do X (antigo Twitter). Outro internauta classificou a produção como "uma aula de superação e autoconhecimento".
Por outro lado, algumas críticas apontaram um tom dramático excessivo e uma possível manipulação da narrativa. "Me pareceu muito roteirizado, não sei se acredito em tudo que ela mostrou", comentou um espectador. Outro foi ainda mais direto: "Muita emoção forçada para vender a narrativa".