"Brick", o novo sucesso da Netflix, estreou no dia 10 de julho e já ocupa o topo do ranking de filmes mais assistidos no Brasil. Dirigido por Philip Koch, o suspense alemão mistura tensão psicológica, ficção científica e crítica social em um cenário inusitado: um prédio onde todos os moradores estão inexplicavelmente presos por paredes pretas de tijolos. A trama acompanha Tim (Matthias Schweighöfer) e Olivia (Ruby O. Fee), um casal em crise que acorda e descobre que está completamente isolado do mundo sem janelas, sem portas e sem explicações.
A premissa simples, mas angustiante, se desdobra em um thriller de sobrevivência recheado de desconfianças, colapsos emocionais, mortes e revelações tecnológicas perturbadoras. Mas, afinal, o que significam essas paredes? Por que estão lá? E o que o final realmente quer dizer?
Ao longo do filme, os personagens tentam entender como escapar. Escavar o chão, abrir túneis ou quebrar paredes se tornam tentativas frustradas. No entanto, descobre-se que os tijolos não têm origem sobrenatural, e sim tecnológica: trata-se de um sistema de defesa automatizado criado pela empresa Epsilon Nanodefense. Projetado para se ativar em casos extremos, como ataques biológicos ou nucleares, o sistema criou uma espécie de casulo protetor que isola totalmente os prédios da cidade.
O problema? Nada disso era necessário. Um incêndio na sede da Epsilon desencadeou o colapso do sistema e ativou, por engano, as barreiras em Hamburgo inteira. A tragédia, portanto, não é causada por uma ameaça externa, mas por uma falha humana o que torna o confinamento ainda mais desesperador e simbólico.
Entre os moradores está Anton (Josef Berousek), um programador que trabalhou na própria Epsilon e que desenvolveu um código de luzes capaz de tornar as paredes translúcidas temporariamente. Mas, antes de concluir o plano de fuga, ele é assassinado por Yuri (Murathan Muslu), outro vizinho obcecado por teorias da conspiração. Para Yuri, sair significava expor-se a um suposto apocalipse lá fora. Resultado: ele destrói o celular de Anton e as anotações com o código, sabotando a única chance de fuga.
Mesmo assim, Tim também programador consegue reconstruir parte do código a partir das gravações de segurança do prédio. Só que usar o código errado tem consequências brutais os muros “engolem” quem tenta escapar sem a sequência correta, o que explica corpos mutilados encontrados ao longo da trama.
© Divulgação, Netflix
Depois de muitos confrontos, mortes e uma nova investida violenta de Yuri, Tim e Olivia finalmente ativam corretamente o código e conseguem escapar do prédio. Mas o alívio dura pouco ao saírem, descobrem que não é só o prédio toda a cidade está cercada pelos mesmos muros de tijolos pretos.
Uma transmissão de rádio revela a verdade tudo foi causado por um defeito sistêmico nos servidores da Epsilon. Não há ataque biológico, guerra ou invasão. A prisão foi criada pela própria tecnologia, sem supervisão e sem controle.
O filme termina com Tim e Olivia dirigindo pela cidade deserta, sem saber o que encontrar uma conclusão melancólica, mas também aberta a interpretações.
Além de sua explicação literal (uma falha tecnológica), os muros de "Brick" também funcionam como metáfora. Eles representam bloqueios emocionais, isolamento social, a dificuldade de comunicação entre o casal e a alienação crescente em tempos de crise. Olivia e Tim só conseguem escapar de fato quando encaram seus traumas, falam abertamente sobre o aborto que os afastou e retomam o vínculo afetivo perdido.
Assim, o muro é literal, sim mas também simbólico. Ele questiona o que nos aprisiona: a tecnologia, o medo ou a incapacidade de enfrentar a dor?
O longa toca em temas profundos com uma estética minimalista paranoias coletivas, colapsos tecnológicos, vigilância em massa e desumanização. O síndico, por exemplo, é encontrado morto com monitores de vigilância ligados e câmeras escondidas por todo o prédio reforçando a sensação de que, mesmo sem ameaça real, todos estão sendo vigiados.
"Brick" lembra que, em tempos de alta tecnologia e baixa empatia, os perigos nem sempre vêm de fora. Às vezes, o verdadeiro colapso está no sistema e nas pessoas que tentam controlá-lo.
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