Prepare o coração antes de dar o play e talvez mantenha um lenço por perto! "Ninguém Nos Viu Partir", nova produção mexicana da Netflix, não só conquistou o primeiro lugar entre as mais assistidas no Brasil como também deixou muita gente de queixo caído com seu final agridoce.
Baseada em fatos reais e inspirada no livro "Nadie Nos Vio Partir", da escritora Tamara Trottner, a minissérie mistura dor, coragem e amor incondicional em meio a uma história que poderia facilmente estar nos noticiários... e, de certa forma, esteve.
A trama gira em torno de Valéria Goldberg (Tessa Ía), uma mulher que vive o pesadelo de ver os próprios filhos sendo levados pelo ex-marido, Leo (Emiliano Zurita), após um divórcio conturbado. O homem, herdeiro de uma poderosa família da elite judaica, decide punir a esposa fugindo com as crianças para a Europa. Então, começa uma busca desesperada que atravessa fronteiras e o tempo.
Inspirada na história real da própria Tamara Trottner, autora do livro que deu origem à série, "Ninguém Nos Viu Partir" mergulha nos bastidores de um sequestro parental que marcou a infância da escritora. Tamara e o irmão foram levados pelo pai e mantidos longe da mãe por anos e é justamente essa dor que dá à série um peso emocional tão autêntico.
Na ficção, Valéria se recusa a desistir. Durante dois anos, ela percorre países como França, Itália, África do Sul e Israel em busca de Isaac e Tamara, os filhos desaparecidos. Essa travessia não é apenas geográfica, é também simbólica, mostrando uma mulher que redescobre sua própria força enquanto enfrenta o poder, o preconceito e o machismo da década de 1960.
Quando finalmente encontra as crianças, em Israel, a série entrega um dos momentos mais intensos de toda a temporada. O reencontro, esperado por tanto tempo, é doloroso. Os filhos, manipulados pelas mentiras do pai, olham para Valéria com desconfiança. Eles acreditam que a mãe os abandonou.
Mas o tempo e o afeto fazem o que a justiça ainda não conseguiu: aos poucos, o vínculo se reconstrói. Durante um ataque aéreo, Valéria protege os filhos em um bunker, e esse gesto muda tudo. A partir dali, eles voltam a enxergá-la como a mãe que sempre esteve por perto, mesmo quando o mundo tentou separá-los.
Determinada a recuperar a guarda, Valéria entra com um processo judicial em Jerusalém contra Leo. No tribunal, ele acaba confessando o que o público já sabia: que mentiu, distorceu os fatos e impediu que as crianças soubessem da verdade. A corte decide pela deportação do pai ao México, enquanto as crianças permanecem em Israel até o fim do ano letivo.
É um final que não entrega alívio total, mas sim um sopro de justiça e esperança. Valéria recupera os filhos e, ao mesmo tempo, a si mesma.
Embora a Netflix tenha adicionado pitadas de dramatização, como intrigas familiares e tensões políticas, o núcleo da história é real. Tamara Trottner viveu, de fato, o sequestro que inspira a série. Na vida real, os filhos ficaram vinte anos sem contato com o pai. Já Valéria (a figura inspirada na mãe da autora) permaneceu ao lado de Carlos, companheiro que a ajudou na busca, até a morte dele, em 1997.
A produção acerta ao não transformar Leo em um vilão unidimensional. Ele é mostrado como um homem complexo, movido por crenças distorcidas e pela necessidade de controle, o que torna a trama ainda mais humana e perturbadora...
"Ninguém Nos Viu Partir" expõe feridas profundas da sociedade: o machismo institucional, a influência da elite e o peso das convenções religiosas sobre as mulheres. E, claro, fala sobre amor, o tipo de amor que atravessa oceanos e décadas.
Não é à toa que o público brasileiro abraçou a série. O final pode não ser exatamente feliz, mas é verdadeiro. E, no fim das contas, é isso que a torna tão poderosa: a sensação de que aquela história, por mais distante que pareça, poderia ter acontecido com qualquer uma.
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