






Acusado de praticar "rituais" contra Silvio Santos, o ex-presidente Fernando Collor de Mello foi preso na semana passada pouco mais de 32 anos depois de passar por processo de impeachment. A condenação à cadeia é de oito anos em decorrência de desdobramentos da Operação Lava-Jato, que por outro lado acabou tendo vários réus com suas penas anuladas em decisões monocráticas.
Mas você se lembra que em julho de 1993, o já ex-presidente conseguiu censurar a exibição de uma novela de TV que iria retratar como paródia a sua vida? O Purepeople retorna ao tempo para te contar essa curiosidade envolvendo o político e a extinta TV Manchete (1983-1999).
A emissora anunciava a estreia de "O Marajá", na qual Fernando Collor era batizado de Elle (sim, com duplo 'l') e apelidado de "Rei Sol" e "Príncipe". "Pretende mostrar os bastidores da quadrilha formada por Collor, seu primeiro-amigo PC Farias (também tesoureiro) e suas fiéis secretárias. Nenhuma figura da República das Alagoas será poupada, como a família Malta, da qual pertence a ex-primeira dama Rosane Collor", explicou o jornal "O Dia".
Um dos autores, José Louzeiro prometia discutir um possível plano de manter Collor na Presidência até 2020, ou seja, por 30 anos - a posse ocorrera em março de 1990 e não em janeiro como ocorre atualmente. "O Marajá" reuniria narradores, imagens de arquivo do jornalismo do canal e depoimentos para costurar a trama.
A história protagonizada por Hélcio Magalhães (Elle), Vânias Bellas (Ella, representação de Rosane) e Walter Francis (Amigo Delle, no caso PC Farias) reuniu ainda no elenco Lúcia Alves, uma secretária - a atriz morreu na semana passada após luta contra o câncer, e nunca foi ao ar. Porém, no dia 26, data de estreia, Collor conseguiu na Justiça que a novela não fosse exibida.
"A ação cautelar impetrada pelo advogado Wellington Moreira Pimentel baseia-se no artigo 5°, inciso X da Constituição Federal, que garante a qualquer cidadão o direito de não ter sua imagem utilizada pelos meios de comunicação sem sua prévia autorização", relatou o "Jornal do Brasil".
"Mas qualquer criança acima de sete anos saberia dizer de quem se trata. A novela tem como objetivo achincalhar e denegrir a imagem do ex-presidente e de seus familiares", prosseguiu Pimentel. Um juiz da 12ª Vara de Família do Rio ficou à favor do ex-presidente e outro da 2ª Vara Cível confirmou a decisão.
Apenas um grupo assistiu ao primeiro capitulo, porém em evento fechado na sede do canal, no Rio. Mais tarde, ainda sem ser liberada, a Manchete queria que o público por carta ou telefone, decidisse se Elle e Ella iriam ou não para a cadeia no fim da trama.
Enquanto isso, as gravações prosseguiam normalmente e, na Justiça, o canal tentava liberar "O Marajá", com direito a protesto na Cinelândia, Zona Central do Rio, na primeira quinzena de agosto. Outra derrota para a Manchete viria em dezembro, quando a emissora resolveu tirar a vida privada de Collor da produção.
Em maio de 1999 veio a notícia que as fitas sumiram dos arquivos da Manchete, em seus últimos meses de vida. Porém, há três anos trechos da produção foram postados no Youtube.