O encontro entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva na 80ª Assembleia-Geral da ONU movimentou os bastidores da diplomacia nesta terça-feira (23). Em um discurso de quase uma hora, o presidente dos Estados Unidos, que foi promessa de "macumba" de Alcione, elogiou o brasileiro, disse que tiveram uma “química excelente” e revelou que ambos se encontrarão oficialmente na semana que vem, segundo informações da CNN Brasil e da agência ANSA.
O detalhe que chamou atenção é que Trump não citou em nenhum momento o ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo de sanções americanas e condenado a mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Segundo relato divulgado pela CNN Brasil, Trump contou que os dois se cruzaram rapidamente nos corredores da ONU. “Eu o vi, e ele me viu, nós nos abraçamos”, disse o republicano. Ele afirmou que a conversa durou cerca de 20 segundos, mas foi suficiente para combinar um encontro na próxima semana. “Ele parece um cara muito legal, na verdade. Ele gostou de mim, e eu gostei dele, e eu só faço negócios com pessoas de quem eu gosto. Tivemos uma excelente química, e isso é um bom sinal”, declarou.
De acordo com a ANSA Brasil, o tom amigável não escondeu o peso das sanções econômicas. Trump lembrou que os Estados Unidos aplicaram um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, em resposta ao que chamou de “interferência sem precedentes nos direitos e liberdades de cidadãos americanos e outros”. O presidente foi categórico ao afirmar que “o Brasil só vai se dar bem quando trabalhar em conjunto com Washington” e prometeu continuar “revidando com muita força”.
No seu discurso de cerca de 15 minutos, transmitido ao vivo pela CNN Brasil, Lula rebateu as críticas e disse que “a agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável”. O presidente fez referência à revogação dos vistos da família do ministro Alexandre de Moraes e de outras autoridades brasileiras, classificando o ato como ingerência nos assuntos internos do país. “Não há pacificação com impunidade”, declarou Lula, em um recado direto aos Estados Unidos.
Para reduzir os efeitos da sobretaxa, o governo brasileiro lançou o Plano Brasil Soberano, que garante R$ 40 bilhões em crédito emergencial para setores afetados, conforme portaria publicada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O objetivo é proteger a indústria nacional e dar fôlego a produtores que dependem do mercado americano.
O julgamento de Jair Bolsonaro foi citado por Lula como um marco histórico para a democracia brasileira. Ele lembrou que o ex-presidente foi “investigado, indiciado, julgado e responsabilizado” por tentar atentar contra o Estado Democrático de Direito. Para Trump, no entanto, a condenação soou como “caça às bruxas”, como noticiou a CNN, o que teria influenciado a decisão americana de impor tarifas mais duras ao Brasil.
O encontro oficial entre Trump e Lula promete ser um dos momentos mais aguardados da próxima semana. Especialistas ouvidos pela CNN Brasil acreditam que a reunião pode abrir caminho para negociações sobre tarifas, mas o clima de desconfiança permanece. A dúvida agora é se a “química excelente” mencionada por Trump será suficiente para amenizar o conflito comercial e político entre os dois países.