Se hoje o público acompanha a reprise de "A Viagem" no “Vale a Pena Ver de Novo” com nostalgia e reverência ao personagem Alexandre, um dos mais emblemáticos da televisão brasileira, o ator Guilherme Fontes, que o interpretou, lembra de outra viagem, muito menos mística: os bastidores turbulentos da TV Globo nos anos 1990 e 2000. E eles não foram nada espirituais.
Na entrevista que concedeu à revista Playboy em dezembro de 2015, Fontes expôs o que muitos preferem deixar nos bastidores: as brigas duras com diretores globais. E não, não foram com Dennis Carvalho nem Jayme Monjardim, dois nomes frequentemente ligados às grandes tensões e egos da emissora. O conflito foi com Paulo Ubiratan e Herval Rossano, dois pesos-pesados do comando cênico.
Fontes narra com precisão o episódio mais ríspido, que teve como cenário uma gravação atrasada, um set esvaziado e um confronto verbal direto com Ubiratan, então diretor de novelas na casa.
“Cheguei atrasado a uma gravação, e os atores nunca são responsáveis pelos atrasos, é sempre a produção, todo mundo sabe disso”, disse. Mas o que poderia ser apenas um mal-entendido virou uma tempestade. Ao saber que Ubiratan o chamara de idiota e havia prometido pedir sua cabeça à direção da Globo, Fontes foi até a sala de Mário Lúcio Vaz, então chefão da emissora.
Ali, os dois homens se enfrentaram. “Ele entrou e começou a me xingar. Eu falei: ‘Vai se f*der, vai tomar no c*, está falando comigo desse jeito por quê?’”, relembra Fontes, que garante que a discussão ocorreu na frente da secretária da chefia. A tensão, curiosamente, deu lugar à reconciliação: “Depois a gente ficou amigo”. É mole!?
Com Herval Rossano, o clima também ferveu. Fontes detalha duas situações de extremo desconforto, ambas durante as gravações da novela "Gente Fina" (1990). Em uma delas, boiava em um canal “nojento” na Barra da Tijuca. “Senti que ele estava se divertindo comigo boiando”, afirmou. O estopim foi outro: “Cheguei com uma camiseta, ele olhou para ela e rasgou no meu peito. P*rra, eu tomei um susto...”, conta.
“Tenho horror à grosseria, à falta de educação, e reajo, seja comigo ou com a pessoa ao meu lado”, declarou. Para ele, a estrutura vertical da televisão, “aquele deus que se chama diretor” é, na prática, uma “babaquice”. O ator rejeitou o rótulo de indisciplinado e defendeu sua postura como coerente com a ética no set: “Nada que não se recuperasse com o que eu podia dar no set. Tem atores que repetem e atores que fazem direto, e eu sempre fui um dos que fazem direto”.