Cariúcha, que recentemente detonou a mãe de Marília Mendonça, tomou uma atitude inesperada (e necessária!) nesta quinta-feira (31), durante o "Fofocalizando", no SBT. A apresentadora, que já chamou o ex de Ana Hickmann de "macho agressor", corrigiu a advogada Márcia Passalini por usar um termo de cunho racista ao vivo.
Durante o programa, a advogada - que está à frente da polêmica envolvendo Rayanne Figliuzzi, atual namorada de Belo, e o ex-companheiro dela, Junior Navarro - foi chamada para rebater acusações de que a influenciadora, que pode estar se separando do pagodeiro, teria abandonado o próprio filho.
"Promover o linchamento virtual de uma mulher, de uma mãe, gera violência psicológica, moral. [...] Um ex-companheiro, ao invés de lutar pelos direitos dele, vir na mídia para expor uma mãe, 'denegrir' a imagem dela", declarou. Contudo, a anfitriã do SBT, com todo respeito, pediu licença à profissional para fazer uma correção pontual.
"Doutora, desculpa te interromper. Mas a gente não usa mais essa palavra 'denegrir', tá? Essa palavra é muito racista. Peço que a senhora não utilize mais essa palavra", pediu a apresentadora, que também sugeriu o termo "difamar". "Desculpa, no caso, difamar...", corrigiu a advogada, que seguiu com seu raciocínio, sem maiores problemas.
Horas depois, o corte do momento viralizou nas redes, claro. Diversos internautas se incomodaram com a postura de Cariúcha, alegando que ela poderia ter esperado a advogada terminar de falar ou até mesmo deixado o termo - que, provavelmente, não foi dito com a intenção de ferir alguém - passar. "Agora pronto, ela é a dona do dicionário" e "frescura demais pro meu gosto" foram alguns dos comentários no perfil Alfinetei, no Instagram. Mas não é bem por aí que a "banda" toca...
A palavra "denegrir", apontada por Cariúcha, tem sim um peso histórico que vai além do dicionário. Embora sua origem venha do latim denigrare - que significa "tornar escuro" -, o problema está no uso figurado e no impacto simbólico que ela carrega.
De acordo com o dicionário Michaelis, além de “fazer ficar escuro”, o termo também significa “manchar a reputação”. E é justamente aí que mora o perigo: ao associar o escurecimento de algo a uma coisa ruim, suja, vergonhosa, o termo reforça um preconceito estrutural que associa o que é negro a algo negativo.
Segundo a Defensoria Pública da União, esse tipo de expressão, aparentemente inofensiva, perpetua estigmas que nasceram no período da escravidão, e que, infelizmente, ainda ecoam no nosso vocabulário cotidiano. “O longo período de escravidão que o Brasil enfrentou ainda deixa marcas na forma como nos comunicamos. Muitas dessas expressões associam a palavra negro ou preto a coisas ruins. Já outras, como ‘inveja branca’, fazem boas associações às pessoas de pele clara”, completa", afirmou o órgão em uma publicação nas redes sociais.
Na mesma linha, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou, em 2022, a cartilha “Expressões Racistas: por que evitá-las”, como parte de uma campanha da Comissão de Promoção da Igualdade Racial. O material lista 40 palavras e expressões que merecem ser aposentadas do vocabulário justamente por reforçarem, mesmo que de forma inconsciente, ideias racistas.
No caso de "denegrir", o TSE sugere alternativas como “difamar” ou “caluniar”, palavras que transmitem o mesmo sentido, mas sem carregar esse histórico discriminatório. Ou seja, não se trata de “frescura”, “militância” exagerada ou “patrulha do politicamente correto”. Trata-se de refletir sobre o peso das palavras e do contexto histórico que elas carregam. E, convenhamos, trocar uma palavrinha por outra mais respeitosa não dói... e pode fazer toda a diferença.