Envolvido na Lava Jato e preso duas vezes por corrupção, Eike Batista viu seu império bilionário ruir diante dos olhos do país. Quase uma década depois, o ex-homem mais rico do Brasil tenta reescrever sua trajetória
Ao mesmo tempo, circula tranquilamente pelo Leblon, zona nobre do Rio, dirigindo um BYD Shark híbrido avaliado em R$ 379.800, segundo o site da montadora. Flagrado nesta quinta-feira (17), Eike posou para uma selfie com um fã após deixar um restaurante, cena bem distante da simplicidade que se poderia esperar de quem passou por duas prisões, dívidas bilionárias e acusações de corrupção.
Em entrevista à CNN Brasil, Eike Batista relembrou o dia 30 de janeiro de 2017, quando, após três dias foragido, foi preso no Rio de Janeiro. Vindo de Nova York, ele foi levado direto ao Complexo de Gericinó, em Bangu, onde passou três meses. De cabeça raspada e sem glamour, o ex-homem mais rico do Brasil se viu no centro de um escândalo envolvendo pagamento de propina ao então governador Sérgio Cabral.
“Eu gosto de gente, gosto de conversar, sou aberto, tenho compaixão com as pessoas. [...] Muitos jovens estavam lá porque foram pegos com 50 gramas de maconha, como aviãozinho”, contou à CNN. E completou: “Foi um teste de humildade, sabe?”
A segunda prisão veio dois anos depois, em 2019. Desta vez, ele ficou detido por 36 horas na penitenciária de Benfica. “Foi para tentar me botar de joelho, tá certo?”, alegou. “O que foi feito comigo foi medieval”, disse à CNN, questionando os métodos da Operação Lava Jato.
Enquanto busca reconstrução de imagem, a realidade fiscal é menos glamourosa. De acordo com o colunista Paulo Cappelli, do Metrópoles, Eike figura na 15ª posição entre as pessoas físicas com maior dívida ativa do país, devendo mais de R$ 4 bilhões à União, entre tributos e encargos previdenciários.
Mas isso não impede o otimismo empreendedor. O criador do “Império X”, que já movimentou bilhões nas áreas de petróleo, energia e mineração, ressurge reembalado como guru empresarial. De acordo com o jornalista Bruno Rosa, a proposta são mentorias de 72 horas ao preço de R$ 50 mil.
No Energy Summit, evento na Cidade das Artes, no Rio, ele lançou a “Eike Xperience”, um pacote de mentoria que promete uma “visão 360°” dos negócios. Inclui jantar no Mr. Lam (restaurante fundado por ele), bate-papo em sua casa e encerramento numa clínica na Barra.
Segundo o O Globo, o curso já teve três quartos das 20 vagas preenchidas. O marketing apresenta Eike como “o maior empreendedor brasileiro”, criador de mais de 20 empresas bilionárias. Detalhes como quebras, dívidas e investigações são convenientemente omitidos no material promocional.
Em 2012, Eike ocupava a 7ª posição no ranking de bilionários da Forbes, com uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões. Na época, era o brasileiro mais rico do mundo, atrás apenas de Carlos Slim na América Latina.
Ainda de acordo com o jornal O Globo, hoje, além das mentorias, o empresário tenta emplacar novos negócios, como uma “super cana-de-açúcar” voltada à produção de etanol e combustível sustentável de aviação (SAF). Para financiar o projeto, anunciou um token digital com meta de captação de US$ 100 milhões, mas a proposta foi suspensa no Brasil por decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que vetou a oferta local.
Mesmo com dívidas gigantescas e uma reputação ainda manchada por escândalos e condenações, Eike Batista parece determinado a construir uma nova narrativa. De acordo com a CNN, ele ainda espera clemência judicial: “Espero que, nas próximas instâncias, olhem para o meu caso com mais velocidade. [...] Está sendo enxergado exatamente o que aconteceu”, defendeu.
Enquanto isso, segue desfilando no Leblon a bordo de um veículo de luxo, oferecendo conselhos milionários e posando para fotos como celebridade. Se vai convencer os empresários e os brasileiros de que aprendeu com os erros do passado, só o tempo (e os próximos IPOs) dirão.
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