“Eu pesava 38 quilos e tinha 1,80 metro de altura. Eu estava à deriva”. O relato é da modelo Michela Ferrante, que voltou às passarelas na Semana de Moda de Milão, desfilando para a Pin Up Stars, no início de setembro.
Aos 41 anos, ela compartilhou ao Corriere della Sera uma trajetória marcada por superações: do abandono materno à luta contra a anorexia, passando por complicações graves em uma cirurgia plástica. “Se houve uma luz para mim, pode haver uma para qualquer um”, disse Michela, ao recordar sua jornada.
A modelo descreveu sua infância como o primeiro grande trauma: “Era véspera de Natal quando minha vida desmoronou. Meu pai sofria de pancreatite aguda. Enquanto ele estava em coma, minha mãe me abandonou sozinha em uma fazenda e desapareceu. Eles me encontraram cinco dias depois". A mãe, que faleceu recentemente, nunca mais quis vê-la. “Eu sofri muito”, desabafou.
Aos 17 anos, Michela mudou-se para Milão em busca da carreira de modelo e da atenção da mãe ausente. Trabalhou para grifes como Prada e Etro, mas mergulhou em um "buraco sem fim". “Eu sofria de anorexia e bulimia. Eu tinha 22 anos quando acabei em uma ambulância no Hospital Niguarda: eu pesava 38 quilos e tinha 1,80 metro de altura. Eu estava à deriva. Aqueles foram anos terríveis”, disse.
Hoje, ela afirma ter uma relação mais equilibrada com a alimentação: “Você nunca se recupera totalmente de um transtorno alimentar. Posso dizer que tenho uma relação tranquila com a comida. Peso 60 quilos e malho. Antes, eu queria ser magra a qualquer custo; hoje, estou em forma".
O encontro com o marido, Claudio, e o nascimento do filho, Enea, marcaram uma virada em sua vida. Mas novos desafios surgiram: “Endometriose nível 4, a mais grave; passei por várias cirurgias no estômago e nos intestinos para remover o tecido uterino que havia invadido esses órgãos".
A busca por um procedimento estético também trouxe consequências dolorosas. “Fui ao cirurgião plástico para um pequeno procedimento para apagar as olheiras. Ele me injetou um preenchimento permanente ilegal. Depois, procurei outro cirurgião oculoplástico para remover a substância. Mas ela paralisou o lado direito do meu rosto e danificou os nervos do meu olho direito, causando atrofia muscular.” Michela passou por seis cirurgias reparadoras e abriu um processo judicial que ainda está em andamento.
Exausta e afastada da carreira, chegou a perder a esperança: “Em 1º de dezembro de 2024, tentei escapar da dor tentando algo terrível. Meu vizinho me encontrou e acabei no Hospital San Matteo, onde me salvaram".
O retorno recente à passarela simboliza sua reconstrução pessoal: “Achei que não havia mais espaço para mim. Perguntei a mim mesma: com olhos assim, para onde você quer ir?”. Hoje, ela defende mais diversidade etária e corporal no mercado da moda. “Quero fazer a minha parte para que as marcas percebam que não podem representar mulheres apenas com modelos de 20 anos. Tenho 41 anos, meu corpo está menos definido, mas tenho orgulho de mim mesma, com uma consciência infinita nascida de todas as batalhas que venci”, declarou.
Vivendo em Dorno, na província de Pavia, com o marido, o filho e 15 cachorros, Michela adota uma filosofia inspirada em Pino Daniele: “Às vezes, tudo parece escuro, sem saída. Mas basta um dia ensolarado para recomeçar.”