
Gloria Perez deixou a Globo dias atrás após a emissora carioca descartar a produção da novela "Rosa dos Ventos". A história levantaria a questão do aborto forçado, que geraria sentimento de vingança na mocinha, e seria a sucessora de "Três Graças", que virá após "Vale Tudo", releitura do original de 1988-1989 em comemoração aos seus 60 anos de fundação, no próximo dia 26.
A trama de Gilberto Braga (1945-2021) substituiu "Mandala", escrita por Dias Gomes (1922-1999) e jamais reprisada em quase 38 anos (estreou em 12 de outubro de 1987). O folhetim abordou na época temas considerados impróprios para a faixa das oito. Entre eles, o bissexualismo e o uso de drogas. Para colocar "Mandala" no ar e impedir o veto da Censura Federal, repetindo o que havia acontecido nos anos 1970 com "Roque Santeiro", a sinopse original foi alterada.
Vale lembrar que "Roque Santeiro" também foi escrita por Dias Gomes e impedida de ir ao ar no dia de sua estreia, em 1975. A novela só saiu definitivamente do papel em 1985 e se tornou um dos maiores fenômenos da teledramaturgia brasileira ao contar a saga do falso milagreiro e de sua "viúva", a quem jamais havia visto.

E você lembra (ou sabia) que "Mandala" também abordou o incesto através dos personagens de Vera Fischer e Felipe Camargo, intérpretes de Jocasta e Édipo, mãe e filho. Segundo o "Memória Globo", a Censura impediu um beijo na boca entre Jocasta e Édipo sob a alegação que seria agressivo para o público. Acontece que a cena foi ao ar normalmente em 4 de janeiro de 1988 após uma mudança de rumo na história.
Quando beijou Jocasta, Épido desconhecia que Jocasta fosse sua mãe, de quem havia sido afastado pelo próprio pai, Laio. Após 25 anos, houve o reencontro de mãe e filho durante briga de trânsito. Laio acabaria morto pelo próprio filho, abrindo caminho para a relação de Édipo com Jocasta.
De acordo com o "Jornal do Brasil", o então diretor da Divisão de Censura da Polícia Federal, Raymundo Eustáquio de Mesquita após liberar o primeiro beijo afirmou que os demais seriam "analisados separadamente", no caso de Jocasta e Édipo. "Não vamos admitir o enfoque do incesto. Cada beijo é um beijo", cravou.
A cena ficou cinco dias à espera de um parecer no órgão e foi analisado por três censores até ser permitida sua exibição. A audiência na Grande São Paulo ficou por volta de 70 pontos. Curiosamente, Perry Salles (1939-2009), o Laio, foi casado com Vera Fischer, que engataria namoro com Felipe Camargo durante as gravações.