A amizade entre Gerluce (Sophie Charlotte) e Viviane (Gabriela Loran) na novela 'Três Graças' chama atenção por um precioso detalhe nos dias de hoje: elas conversam de verdade. Sem celular na mão, sem notificações apitando, sem a urgência de registrar tudo.
Elas se encontram depois do trabalho, sentam num bar, ficam na casa uma da outra ou até param na rua mesmo, e falam da vida.
Quem acompanha a atual novela das nove da Globo sabe que as 'comadres' conversam sobre namoro, sexo, dinheiro (nesse momento sobre o roubo da escultura), das inseguranças e dos desejos pessoais, como o namoro de Viviane com Leonardo Ferette (Pedro Novaes). Tudo isso é troca real.
O que essas duas personagens fazem parece simples, mas hoje soa quase revolucionário: estar junto sem tela. Gostar da companhia do outro sem precisar dividir atenção com um feed infinito.
Existe um hábito intimamente associado à vida adulta que muitos jovens abandonaram por considerá-lo antiquado: sentar para conversar sem telas, seja com amigos, seja com a família.
Para gerações anteriores, isso era natural, parte da rotina, do fim de tarde, do depois do jantar. Hoje, foi empurrado para o segundo plano pelos celulares, pelas redes sociais e pela lógica da resposta imediata.
Especialistas em psicologia apontam que essa mudança está diretamente ligada ao avanço tecnológico e à cultura do imediatismo. Mesmo quando estão no mesmo espaço físico, muitas pessoas priorizam a conexão virtual.
O resultado é uma presença fragmentada: corpos juntos, mentes dispersas. Conversas são interrompidas por mensagens, vídeos curtos, notificações que nunca cessam.
O impacto disso na saúde emocional e nos relacionamentos é profundo. Conversar sem telas desenvolvia habilidades essenciais que hoje estão sendo reaprendidas com dificuldade. Entre os principais benefícios desse hábito estão o aumento da empatia, o fortalecimento dos vínculos e uma sensação real de pertencimento.
Para muitos jovens, esse tipo de encontro chega a ser desconfortável. Exige atenção, paciência e entrega, ou seja, coisas raras em um mundo que recompensa a distração constante. Ainda assim, em meio à saturação digital, esse costume começa a ser resgatado. Não como nostalgia, mas como necessidade.
Talvez seja por isso que a amizade de Gerluce e Viviane soe tão verdadeira. Ela lembra que tecnologia não precisa ser descartada, mas equilibrada. E que, no fim das contas, nada substitui duas pessoas sentadas, conversando, rindo e vivendo sem uma tela no meio.