






Espanha e Portugal enfrentaram nesta segunda-feira (28) um dos maiores apagões já registrados na história recente da Europa. O blecaute paralisou transportes, hospitais, indústrias e telecomunicações, além de provocar caos nas ruas e aeroportos das principais cidades ibéricas. Mas afinal, o que causou o apagão? E há previsão para o retorno da energia?
O blecaute teve início por volta das 12h30 no horário local (7h30 de Brasília), atingindo quase toda a Península Ibérica. De acordo com a operadora espanhola Red Eléctrica (Ren), uma "oscilação muito forte na rede elétrica" provocou o desligamento da Espanha do sistema europeu, levando ao colapso da rede elétrica em Portugal e na própria Espanha.
"Nunca aconteceu nada parecido; é um incidente absolutamente excepcional", declarou a Red Eléctrica em comunicado oficial.
Relatos nas redes sociais indicam que o apagão também afetou temporariamente regiões da França, da Finlândia e de Andorra, embora em menor escala.
Apesar das especulações iniciais sobre a possibilidade de um ciberataque, as autoridades europeias afastaram essa hipótese. A vice-presidente executiva da Comissão Europeia, Teresa Ribera, afirmou que "no momento, não há nada que nos permita dizer que houve sabotagem ou ataque cibernético", segundo a rádio espanhola Radio 5.
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, também reforçou que "não há evidências de que o apagão tenha sido causado por um ataque hacker", segundo declarou à imprensa local.
De acordo com a Red Eléctrica da Espanha, o evento foi provocado por um fenômeno interno: a instabilidade no fornecimento elétrico, com uma forte queda no consumo registrada às 12h30, que forçou o desligamento automático para evitar danos maiores ao sistema.
Fontes da operadora portuguesa Redes Energéticas Nacionais (REN) também negaram qualquer relação com fenômenos atmosféricos extremos, classificando essas especulações como "fake news", em entrevista ao The New York Times.
Os efeitos do apagão foram sentidos de maneira imediata. Em Madri e Lisboa, trens e metrôs pararam dentro dos túneis, deixando centenas de passageiros presos. De acordo com o ministro dos Transportes da Espanha, Óscar Puente, os serviços ferroviários não seriam retomados ainda na segunda-feira, mesmo com a volta parcial da energia.
Hospitais como o La Paz, em Madri, precisaram acionar geradores de emergência, enquanto diversas cirurgias programadas foram canceladas. Segundo reportagens da AFP, o comércio operou às escuras em muitas cidades, e até serviços básicos de telecomunicações, como ligações telefônicas e o WhatsApp, sofreram lentidão.
No aeroporto de Barajas, em Madri, e no El Prat, em Barcelona, voos foram cancelados e passageiros ficaram horas esperando do lado de fora dos terminais, conforme noticiado pela BBC.
O restabelecimento da energia começou a ocorrer de forma gradual no final da tarde de segunda-feira. Segundo comunicado da Red Eléctrica, até 48% da capacidade energética já havia sido recuperada na Espanha por volta das 21h no horário local.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que a normalização total da rede elétrica poderá levar até uma semana, em razão da necessidade de reequilibrar os fluxos de energia no sistema, segundo declarou em pronunciamento televisionado.
Já em Portugal, o governo informou que o fornecimento estava sendo "gradualmente restabelecido" e pediu serenidade à população, conforme divulgado pela Proteção Civil portuguesa em comunicado enviado por SMS.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, garantiu apoio a Portugal e Espanha para acelerar a recuperação da rede elétrica. Em paralelo, a operadora francesa RTE informou que regiões fronteiriças da França também foram afetadas brevemente, mas que a situação foi normalizada ainda na segunda-feira.
A situação levou ainda o Conselho de Segurança Nacional da Espanha a se reunir para avaliar possíveis vulnerabilidades na infraestrutura energética, segundo informações da agência Lusa.
Analistas citados pela BBC alertam que apagões em grande escala, embora raros na Europa, tendem a acontecer globalmente ao menos uma vez por ano. Para o pesquisador Artjoms Obusevs, da Escola de Engenharia da ZHAW na Suíça, o caso espanhol demonstra a fragilidade de redes interconectadas e a necessidade de medidas de segurança adicionais.
Além disso, o episódio reacende o debate sobre a política energética da Espanha, que planeja desativar suas usinas nucleares e reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis até 2030. No momento do apagão, grande parte da geração de energia espanhola vinha de fontes solares, exigindo reativação emergencial de usinas a gás e hidrelétricas no modelo conhecido como "black start", de acordo com a Bloomberg.