O que durante anos foi tratado como humor leve de domingo hoje ganha um novo olhar da Justiça. A Rede Globo foi condenada a pagar R$ 220 mil por danos morais ao produtor Renato Moreira de Lima, que trabalhou no “Domingão do Faustão” e se tornou alvo frequente de piadas feitas ao vivo pelo apresentador Fausto Silva. A informação foi divulgada na coluna do jornalista Rogério Gentile, no UOL, em reportagem publicada nesta quarta-feira (17).
Segundo a ação judicial, Renato afirmou que, ao longo de anos, foi alvo de “chacotas” recorrentes feitas por Faustão em rede nacional. De acordo com o advogado Vitor Kupper, que representa o produtor, o apresentador teria feito comentários “absolutamente impertinentes”, expondo o funcionário ao ridículo diante de milhões de telespectadores.
Ainda segundo colunista, o produtor declarou que nunca autorizou o uso de sua imagem no programa e que as piadas envolviam insinuações sobre seu físico, comportamento, profissionalismo e até sua vida pessoal, pontos que pesaram na avaliação da Justiça.
Entre os episódios mencionados na ação está um comentário feito por Fausto Silva em 2015 durante a participação do cantor Gabriel O Pensador, quando o apresentador disse que a música “Rap do Feio” teria sido feita em homenagem ao produtor. Em outra ocasião, Faustão afirmou que Renato “pensava em ser galã de Malhação, não conseguiu e acabou no Domingão”.
O processo também cita uma situação classificada como “no mínimo, constrangedora”, em que o produtor teria sido obrigado a colocar uma bexiga na região genital para ser estourada por um malabarista usando uma bicicleta, tudo exibido ao vivo no programa.
Em sua defesa, a Rede Globo afirmou à Justiça que o produtor jamais teria feito qualquer reclamação formal contra Fausto Silva durante o período em que trabalhou no programa. A emissora alegou ainda que Renato Moreira de Lima mantinha uma relação de amizade com o apresentador, frequentava sua casa e sempre demonstrou gostar do clima descontraído do “Domingão”.
Segundo a empresa, não houve assédio moral e as participações do produtor nas brincadeiras teriam sido espontâneas. A Globo também destacou que Renato pediu demissão para seguir trabalhando com Faustão na Band, no programa “Faustão na Band”, reforçando que ele seria um dos “fiéis guardiões” e até um “queridinho” do apresentador, conforme já declarado publicamente.
A juíza Tarsila Dantas, da 63ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, não concordou com os argumentos apresentados pela emissora. Na sentença, ela afirmou que ficou comprovada a conduta abusiva, já que o produtor era frequentemente alvo de interações e brincadeiras feitas pelo apresentador.
Segundo a magistrada, o fato de existir proximidade ou amizade fora do ambiente profissional não dá permissão para que um superior hierárquico exponha um subordinado durante o exercício da função, fazendo comentários sobre aparência física, vida pessoal ou piadas de cunho depreciativo, como destacou na decisão reproduzida pelo UOL.
Além da indenização por dano moral no valor de R$ 220 mil, a Rede Globo também foi condenada a pagar valores referentes a horas extras e outros direitos trabalhistas ao produtor. A emissora ainda pode recorrer da decisão.
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