Preta Gil, que morreu no último domingo (20) após a luta contra o câncer, demorou quase 30 anos para finalmente admitir que queria viver de música. Como empresária e publicitária, ela foi muito bem-sucedida profissional e financeiramente, mas a angústia de não se assumir cantora trouxe uma séria consequência: a compulsão por compras.
Preta teve uma oportunidade de estrear artisticamente na minissérie “Sex appeal”, mas optou por migrar para a publicidade por ser uma opção mais segura. “Hoje vejo que foi uma decisão muito equivocada”, admitiu, em uma entrevista ao jornal O Globo em 2014.
Infeliz, mesmo com o sucesso de sua própria produtora, Preta não parava de comprar sapatos e bolsas de marca. Ela chegou ao ponto de gastar 30 mil dólares em um cartão de crédito e até perdeu um apartamento por conta das dívidas que acumulou.
Com isso, Preta teve os cheques suspensos, os cartões bloqueados e passou a viver de mesada. Isso aconteceu após uma intervenção da família e do terapeuta, com quem ela chorava ao falar da insatisfação com a vida profissional.
“Não queria saber quanto eu tinha no banco, saía comprando! Foi um período triste. Dava um desespero. Colocava pra dentro comida, bolsa e sapato. Aí começou a busca: o que vai tapar esse buraco?”, relembrou.
Na emblemática entrevista à revista Trip, em 2003, onde apareceu nua e deu declarações sobre sexo, Preta também falou sobre a compulsão por gastar dinheiro, o que classificou como “uma doença bem barra-pesada”.
“Ganhei muito dinheiro na minha vida, trabalhando como publicitária, como produtora, fui uma profissional muito bem-sucedida. Mas não era o que queria, estava me enganando. Como tinha esse buraco em mim, esse vazio, preenchi de duas formas: comendo e gastando. Comecei a gostar, a ter adoração por marca, por grife. A Regina Casé me chamava de 'Pretinha de Beverly Hills'! Todo o dinheiro que ganhei, gastei na Daslu! [risos]”, brincou.
Além das compras, Preta relembra que ajudava muitas pessoas, o que também saiu de controle. “Era uma menina bem-sucedida com 24, 25 anos, ia para Nova York quando queria, ajudava meus amigos fodidos, minha empregada, a babá, meu motorista”, conta.