Em 1993, no auge da campanha de divulgação do álbum "HIStory", Michael Jackson - que pode ser o "pai" de Bruno Mars - idealizou um projeto ousado: transformar em filme uma narrativa de horror escrita em parceria com Stephen King. O resultado só chegaria em 1996, após anos de adiamentos, e se chamaria "Michael Jackson’s Ghosts".
O roteiro foi assinado pelo cantor e pelo romancista, e a direção ficou nas mãos do mestre dos efeitos especiais Stan Winston, conhecido por clássicos como "Jurassic Park", "O Exterminador do Futuro 2" e "Edward Mãos de Tesoura".
Com 39 minutos de duração, "Ghosts" apresentou Michael Jackson como o Maestro, um homem misterioso que vive numa mansão afastada e entretém crianças com histórias sobrenaturais. Essa rotina desperta a fúria dos adultos da fictícia Normal Valley, que o acusam de ser uma influência negativa. "Viu o que você fez? Jovens são facilmente impressionáveis", reclama uma mãe.
Em pouco tempo, o protagonista passa a ser tratado como o “inimigo nº1 dos puritanos” e alvo do prefeito da cidade - também interpretado por Jackson, que usava próteses e maquiagem para se transformar num homem branco de 50 anos.
Atendendo ao pedido de Stan Winston, Michael interpretou cinco personagens principais: o Maestro, o Prefeito, um Esqueleto dançante, o Super Ghoul e uma versão fantasmagórica do próprio prefeito. A ideia do diretor era provar que Jackson poderia ser aceito como ator se aparecesse irreconhecível sob maquiagem e efeitos visuais, de acordo com informações do portal Espaço Michael Jackson.
Originalmente, Mick Garris (roteirista de "Abracadabra" e adaptador de "The Stand", de Stephen King) estava escalado para dirigir o curta, mas Winston assumiu a função quando Garris ficou preso a outros compromissos. A produção durou mais de seis semanas intensas e envolveu experimentações pioneiras.
Jackson teve seu corpo marcado com sensores em uma das primeiras aplicações de captura de movimento, tecnologia usada para dar vida digital ao esqueleto que dança no filme. Essa sequência se tornou um dos pontos altos do projeto, misturando coreografia de Michael com computação gráfica avançada para a época!
A concepção de "Ghosts" começou em 1993, mas as acusações de abuso sexual contra Michael naquele mesmo ano, segundo informações da Folha de S. Paulo, fizeram o artista adiar o projeto por quase três anos.
Quando finalmente foi concluído, em 1996, o média-metragem teve uma primeira exibição para convidados em Beverly Hills, seguido por sessões especiais em cinemas americanos na semana do Halloween, ao lado do filme "Thinner", também baseado em obra de Stephen King.
Em maio de 1997, "Ghosts" foi exibido no Festival de Cannes, onde recebeu um Prêmio Especial do júri, reforçando seu status como obra única na interseção entre música pop e cinema de gênero.
O curta, que nasceu da intenção de Michael de produzir apenas um clipe para a música "Is It Scary", acabou se transformando no vídeo musical mais longo da história, com 39 minutos e 32 segundos. A façanha entrou para o Guinness Book em 2002, e só foi superada em 2013 pelo vídeo de 24 horas da canção "Happy", de Pharrell Williams.
Embora a versão original de 1996 tivesse um remix de "2 Bad" acompanhando as cenas de dança, a edição lançada comercialmente em 1997 foi alterada para incluir "Ghosts" e "Is It Scary", ambas presentes no álbum "Blood on the Dance Floor – HIStory in the Mix".
Além disso, a produção chamou atenção pelas impressionantes transformações de Jackson em cena, como quando o Maestro estica a pele do rosto até revelar o crânio, num efeito prático criado a partir de um molde da cabeça do cantor!
"Michael Jackson’s Ghosts" não atingiu o mesmo impacto comercial de "Thriller" (1983), mas consolidou a busca do artista por unir música, cinema e inovação tecnológica. A crítica da época destacou o roteiro simples, mas elogiou os efeitos especiais e a coreografia do cantor, cuidadosamente preparada por ele mesmo. Divo faz assim! Aliás, divos.
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