Morreu na madrugada desta segunda-feira (04), aos 64 anos, o publicitário e locutor Bob Floriano, vítima de leucemia. A despedida ocorreu no mesmo dia, no cemitério do Araçá, em São Paulo, cercada por familiares e amigos. A notícia foi confirmada pelo site Meio & Mensagem e pelas redes sociais do próprio locutor: “Hoje, sua voz descansa, mas a saudade que deixa reverbera em cada comercial que já ouviu, em cada programa que já sintonizou, mas principalmente em nossos corações.”
Responsável por dar vida a mais de 90 mil comerciais, Bob ficou eternizado como a voz marcante das Casas Bahia, mas seu timbre também ecoou em campanhas da Petrobras, Sadia, Bradesco e Vivo, além de canais como Discovery, Eurochannel, E! Entertainment e da Band FM, onde foi voz-padrão. Ele também foi apresentador do “Fala Brasil”, na Record TV, nos anos 1990.
A história começou em 1980, quando Bob, então com 19 anos, viu um anúncio no rádio que pedia jovens com boa voz e inglês fluente. Sem nunca ter pisado num estúdio, ele fez o teste na Rádio Cidade e foi aprovado entre 140 candidatos para ser o “folgador”, ou seja, o locutor substituto nas folgas dos titulares. “Passei por 140 candidatos”, contou, com orgulho, no Programa do Jô, em 2016.
“Sou a voz padrão do maior anunciante do país”, afirmou Bob na entrevista, referindo-se ao trabalho com a Casas Bahia. Ele revelou gravar, em média, 25 comerciais por noite. “Dá cerca de 85 mil comerciais em 15 anos. De segunda a sexta, toda noite eu gravo”, disse, detalhando a rotina intensa.
Com seu carisma afiado, Bob arrancou risos da plateia ao brincar com sua genética vocal: “A voz eu herdei do meu pai, mas a estatura da minha mãe”. Sempre bem-humorado, lembrou da infância influenciada pelo rádio e pela televisão popular, especialmente por um tio apaixonado por comunicação. “Ele ouvia o Trabuco com Vicente Leporace, assistia ‘A Praça da Alegria’, o Chacrinha, o Bolinha… fui aprendendo o que era a televisão popular sem saber que usaria tudo isso depois.”
A bagagem adquirida desde jovem moldou sua forma de comunicar: “Você vende muito mais quando fala com o povo como o povo fala”, afirmou. Essa perspectiva resultou no livro “Quem Fala Bem Vende Mais”, lançado em 2015.
Durante o bate-papo com Jô Soares, Bob deu uma verdadeira aula de versatilidade vocal. Imitou estilos de narração — do publicitário urgente ao narrador de mistério — e até leu um trecho sombrio do poema “Porque hoje é sábado”, de Vinicius de Moraes:
Além de locutor, Bob também atuava como mentor de comunicação, dando palestras motivacionais e treinamentos voltados para profissionais de vendas. Ele dizia que criar vozes e personagens era parte do trabalho: “Só até sábado!”, repetia, rindo do bordão que virou marca registrada da sua carreira.
Na conversa com Jô, explicou que o segredo da profissão estava em entender o que o cliente queria: “Às vezes, a agência pede uma locução ‘mais azul’. O que é isso? Nem eles sabem explicar. Mas você precisa entender e entregar.”
Nos últimos anos, Bob se afastou das gravações para se dedicar ao tratamento da doença. Deixou a esposa, a consultora Viviane Faustini, e duas filhas. Apesar da partida, a presença de Bob continua ressoando nos ouvidos de milhões de brasileiros.
“Você ouve um comercial e sabe que é ele. Mesmo sem saber o nome. Essa é a mágica do Bob Floriano.”
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