





O ator Rafael Zulu fez um alerta ao público sobre um problema de saúde que enfrentou em fevereiro deste ano: ele foi diagnosticado com fibrilação atrial. No entanto, o caso do ator não é crônico.
Rafael foi parar no hospital após beber 2,5 litros de energético misturados com álcool durante um encontro de família. O famoso sentiu taquicardia e decidiu procurar um hospital. Foram quatro dias de internação e ele chegou a precisar de uma “dose de ataque”, ou seja, uma dose inicial maior de um medicamento, para que seus batimentos voltassem ao normal.
“O coração deu uma acelerada e uma piorada, tive palpitações no peito. Eu tive uma fibrilação atrial por consequência de excesso de energético. Tive medo, muito medo do que eu vivi naqueles quatro dias internado”, disse Rafael, em um vídeo publicado nas redes sociais.
Mas, afinal, o que é a fibrilação atrial e qual a relação deste problema de saúde com o abuso de energéticos e outros estimulantes? O Purepeople consultou o Dr. Edmo Atique Gabriel*, PhD em Cirurgia Cardiovascular, para tirar as principais dúvidas.
* CRM/SP: 105226, CRM/RJ: 1059840, CRM/DF: 22775, CRM/MS: 5936, RQE: 36567
O que é a fibrilação atrial?
A fibrilação atrial é um tipo frequente na população em geral, que, na maioria das vezes, não causa eventos graves, mas pode prejudicar, com o passar do tempo, o funcionamento adequado do coração.
A fibrilação atrial, como o próprio nome diz, representa uma alteração específica dos átrios do coração. Os átrios do coração seriam a parte superior da estrutura do coração. Nós temos a parte superior chamada átrios e a parte inferior chamada ventrículos, ou seja, a fibrilação atrial atua principalmente na desorganização dos batimentos desse segmento chamado átrio.
Existem fatores que indicam predisposição à fibrilação atrial? Apenas o excesso de estimulantes pode causar?
Ela pode ter associação com várias coisas. Há vários fatores predisponentes, mas, principalmente, hipertensão arterial, alteração nas válvulas cardíacas, Doença de Chagas, estresse excessivo, já que o estresse causa uma descarga de hormônios adrenais, como adrenalina e noradrenalina. O uso de drogas ilícitas e de estimulantes à base de cafeína e taurina, como é o caso, por exemplo, dos energéticos. E a fibrilação atrial também pode ter um componente hereditário, ou seja, um componente familiar e genético.
Por que a combinação de álcool e energético é tão perigosa?
O álcool, isoladamente, causa inflamação aguda no coração. À medida que a pessoa consome em excesso álcool, gera uma inflamação aguda especificamente no músculo do coração, no miocárdio, podendo causar uma miocardite alcoólica. Essa alteração por si só é perigosa porque desencadeia arritmias e até eventualmente um infarto.
Quando a pessoa consome o energético em excesso, ela vai ter um hiperestímulo das funções cardíacas, podendo ter pico de pressão arterial, aceleração do batimento, arritmias, dor no peito e falta de ar.
Portanto, se você imaginar que a associação entre essas duas substâncias está ocorrendo com muita frequência e em uma dosagem muito elevada, vamos ter uma sobrecarga aguda e muita intensa da função cardíaca, o que ocasiona mudanças na pressão arterial, do batimento cardíaco, do equilíbrio geral da pessoal, das questões neurológicas, como memória, concentração, foco, adequação visual. Todos os atributos naturais dessa pessoa vão se perdendo em função do efeito somatório das duas substâncias. Nós podemos ter como um evento final, inclusive, um colapso do coração com morte súbita.
Como identificar quando aquela palpitação depois de um energético deixa de ser normal e vira sinal de alerta?
Depois de usar energético ou qualquer substância estimulante e as palpitações se iniciarem, a pessoa vai começar a ter escurecimento visual, tontura, sensação de desfalecimento, dor no peito de forte intensidade, falta de ar, sudorese intensa - geralmente, fria. A associação do uso de estimulantes com sintomas como estes - logicamente, não precisa ser todos ao mesmo tempo, basta um sintoma, além da palpitação - tudo isso é uma forma de alerta de que seu corpo não está reagindo de forma adequada. A gente sabe que não é proibido usar o estimulante, mas as pessoas têm que entender a reatividade de seu organismo frente a um estímulo de substâncias.
Quais os principais riscos de um quadro de fibrilação atrial?
Quando é uma fibrilação atrial aguda, que é aquela que ocorre de forma súbita, a pessoa pode ter sinais de descompensação do coração, que seria, por exemplo, uma fraqueza para respirar, dor no peito, tontura, alterações visuais. Além disso, pode ocorrer a formação de coágulos dentro do coração, e esses coágulos podem causar não só problemas para o coração, como dependendo da localização, podem resultar em um derrame cerebral.
A fibrilação atrial pode ser crônica também, quando a pessoa já convive durante um bom tempo com essa situação. Nesses casos, o risco principal é de formação de coágulo também. E aí a gente mantém a pessoa anticoagulada. Existem medicamentos específicos para isso.
Quais são os principais tratamentos para a fibrilação atrial? Tem cura?
A fibrilação atrial pode ter condições de cura quando ela acontece de forma intermitente. Ou seja, a pessoa não tem um ritmo desorganizado, mas por alguma situação transitória, como estresse ou uso de substâncias, ela começa a apresentar o ritmo de fibrilação atrial. O tratamento para cura pode ser feito com medicamentos e também existem procedimentos específicos para esse objetivo. Nós chamamos esse procedimento de ablação.
Nos casos onde a fibrilação atrial é crônica, a possibilidade de cura já é menor. Não que seja ausente. Existe até essa possibilidade, mas significativamente menor. No caso da fibrilação atrial crônica, a melhor abordagem é tentar o controle das manifestações, porque a cura fica mais difícil. Controlar a frequência cardíaca para que fique estável, controlar a pressão arterial, evitar a formação de coágulos usando anticoagulante, por exemplo.
Além do energético, existem outros produtos do nosso dia a dia que podem desencadear fibrilação atrial?
O café líquido pode. Refrigerantes ricos em cafeína, a maioria têm cafeína. Alguns chás estimulantes que podem ter cafeína. Algumas substâncias ricas em temperos ou especiarias consumidas em excesso, como gengibre, ginseng, canela, açaí. Drogas ilícitas, além de combinações, como, por exemplo, o energético associado com álcool, café ou outros estimulantes baseados em especiarias. Qualquer combinação desse tipo também pode ocasionar arritmias. E como a fibrilação atrial é uma das mais frequentes, ela entra no rol das que mais nos preocupa.
Existe uma quantidade recomendada de consumo de estimulantes?
A quantidade de cafeína para cada pessoa é algo muito individual, mas o que a gente pode colocar como um valor médio é que o consumo de cafeína abaixo de 400 mg por dia seria o mais adequado. Quando se consome um suplemento, por exemplo, é possível, através do rótulo, identificar quantas miligramas de cafeína aquela cápsula tem. Em geral, o ideal é não passar de 400 mg por dia de cafeína nesses suplementos. Inclusive, muitas pessoas não toleram nem 400 mg. Elas toleram até 200 a 300 mg. Então, se a pessoa também for consumidora importante de café, refrigerantes com cafeína e chás, ela também tem um aporte secundário de cafeína que ela deve considerar. Em geral, falando do café líquido, o ideal é aquela questão tradicional de duas a três xícaras pequenas de café ao dia para a maioria das pessoas.