O “Big Brother Brasil”, reality show global que estreou na TV Globo em 2002, exportou personalidades para os mais diversos âmbitos do entretenimento. A vice-campeã do “BBB 5”, Grazielli, virou atriz de novela; já Sabrina, do “BBB 3”, entrou para o humorístico “Pânico na TV”.
Em um tempo muito anterior ao advento das redes sociais, elas foram exceções. Os ex-”BBBs” eram esquecidos antes mesmo do início de uma nova edição, mas as mulheres que mais se destacavam ainda tinham a oportunidade de construir algum patrimônio como capa da Playboy.
Em 2009, quatro mulheres do “BBB” posaram nuas, o que se repetiu com participantes do “BBB 10” e do “BBB 11”. Ou seja, por três anos, a revista dedicou 1/3 de suas capas a habitantes da “nave louca” de Pedro Bial.
Terceira colocada do “BBB 9”, Francine Piaia, carinhosamente descrita como “Fran-tástica” na capa da publicação, apareceu sem nada na edição de junho de 2009, apenas dois meses depois de sair da casa com R$ 50 mil no bolso.
Para garantir as mulheres mais desejadas da edição, a produção da Playboy mal esperava o fim do confinamento, como Francine lembra nesta entrevista ao Purepeople, em celebração aos 50 anos da revista masculina.
“Logo quando eu saí do ‘Big Brother’, já teve esse convite. Acho que eu estava no hotel ainda, ali rolou o convite. Não achei que eu seria chamada, eu não passava essa imagem sexy. Foi uma surpresa o convite”, conta ela.
Colorida e meiga, Francine abandonou as características da persona que a levou à final do “BBB” e protagonizou um ensaio glamouroso, marcado pela teatralidade e bastante fetichista, que explorou bem de perto partes do corpo da moça, como o pé, a boca e os seios. O trabalho é do fotógrafo Maurício Nahas, retratista que já atuou em diversas revistas e agências de publicidade.
O resultado, segundo avaliação de Francine, foi um ensaio mais conceitual que o normal. “Eu lembro que me falaram assim: ‘se alguém quiser se… com a sua Playboy, não consegue, porque ela é toda muito artística’. Não tá tão sexy, acho que tá artística mesmo”, revisa.
© Reprodução, Playboy (Foto: Maurício Nahas)
Apesar de ter recebido a liberdade de opinar, o primeiro pedido de Francine foi prontamente negado: fazer as fotos em uma praia. “Eles falaram pra mim: ‘você é muito branca, nada a ver com praia’ (risos)”, relembra.
O pedido deu origem à foto mais lembrada do ensaio de Francine. Em referência a uma cena do “BBB” onde ela senta em uma bacia, eles pediram que ela fizesse o mesmo, só que em uma bacia cheia de areia rosa. O resultado? “Quando eu levantei, eles fotografaram minha bunda. Ficou um formato de coração.”
A foto fez tanto sucesso que foi parar em edições internacionais da Playboy, como na Grécia e na Argentina. “Minha bunda foi capa da edição de 25 anos da Playboy Grécia”, comemora Francine, sem esquecer: “Pena que a gente não ganha nada com isso, nem um real”.
- Francine protagonizou um ensaio exclusivo para o Purepeople em comemoração aos 50 anos da Playboy. Confira na galeria de fotos acima!
Hoje, Francine é bastante desinibida - em um eufemismo para “sem-vergonha”, como ela mesma se define - nos vídeos adultos que disponibiliza para os assinantes do OnlyFans, mas o cenário era bastante diferente há 16 anos. “Fui morrendo de vergonha, achando que eu estava fazendo uma coisa muito errada”, confessa.
Não é de se estranhar que alguém que, seis meses antes, era professora ficasse desconfortável de estar nua diante de uma equipe de 20 pessoas. Coube ao staff a tarefa de adotar estratégias para relaxá-la. Entre elas, taças de champanhe servidas às 6h da manhã.
“Eles viram que eu estava bem nervosa. Colocaram um vestidinho em mim, com transparência, aí foram começando a tirar fotos de vestido até que eu liberasse, me soltando. Claro que essas fotos de vestidinho não saíram em nenhum lugar. Foi só pra começar.”
© Reprodução, Playboy (Foto: Maurício Nahas)
Esse mesmo processo gradual aconteceu quando Francine se tornou produtora de conteúdo adulto. Ela começou com ensaios de lingerie e até que, naturalmente, a coisa começou a esquentar. “Fui entrando com os consolos. Depois fui entrando com as pessoas (risos)”, diverte-se. “Eu fui tentando me sentir confortável a cada passo.”
Sexo no ‘BBB 9’? “Garanto que não fiz nada desse tipo na casa! Mas vou te contar: foi difícil aguentar, viu? Bem difícil…” (Francine Piaia para a Playboy em junho de 2009)
Em 2009, a Playboy ainda vendia bem, mas já experimentava as consequências do declínio do mercado editorial no Brasil. Mesmo sem condição de oferecer cachês exorbitantes para todas as modelos de capa, a revista até garantia nomes bem famosos, como Flávia Alessandra e Juliana Alves, que posaram nuas naquele ano.
Na mesma edição de Francine, Luana Piovani concedeu uma entrevista onde afirma que nunca posou nua porque “simplesmente vocês não têm dinheiro para me pagar”. Se para a atriz um cachê de centenas de milhares de reais era irrisório, para Francine, foi um dinheiro transformador.
“Na época, nunca tinha visto tanto dinheiro”, diz. Francine revela que ganhou R$ 300 mil pelas fotos, o que possibilitou compra de apartamento, carro e mais. “Inclusive, eu troquei o carro dos meus avós, eles acharam ótimo (risos)”.
O preço pelo ensaio, no entanto, foi a perda de uma oportunidade na TV Globo. “Na época, tinha muito preconceito com quem posava para a Playboy. Fui chamada por alguém grande da Globo pra trabalhar em um programa, mas a esposa do protagonista do programa disse: ‘Não posa pra Playboy, que não é o estilo de programa’. Era um programa de humor que tinha um apelo infantil e não poderia”, expôs.
Mas Francine não se arrepende: “O dinheiro foi muito bom, eu fiz muita coisa. Não teria valido a pena. Eu não ganharia nem perto do que ganhei na Playboy.”
Atualmente, Francine prefere não expor os faturamentos do OnlyFans, mas garante que “dá para ganhar legal”. A mulher que, em 2009, temeu estar “fazendo algo errado” quando posou nua, hoje, tem uma resposta na ponta da língua aos haters: “Eu acho que a gente amadurece e perde a vergonha. Ninguém paga as minhas contas, não tô nem aí pro que falam sobre conteúdo adulto ou até mesmo a Playboy. Tô feliz fazendo o que eu faço.”