O nome do projeto não deixa dúvidas. “Nostalgia Pura” é um mergulho emocional em tudo o que moldou a trajetória de Luiza Martins, da infância nos anos 2000 aos palcos que hoje comanda com segurança e identidade. Mas por trás das regravações, participações especiais e referências afetivas, está uma artista em plena afirmação, e com coragem de cantar o amor entre duas mulheres no gênero mais tradicional do país.
Em conversa exclusiva com o Purepeople Brasil, Luiza Martins detalhou a concepção do novo álbum, lançado na quinta-feira (17), com oito faixas. Entre elas, uma em especial tem despertado fortes reações do público, “Tailândia”, dedicada à esposa, Marcela Mc Gowan, ex-"BBB 20". “Foi uma virada de chave na minha vida”, resume a artista.
Mais do que resgatar sucessos ou regravar ídolos, “Nostalgia Pura” é, para Luiza, um retorno a um tempo de descoberta e formação. “Eu cresci nos anos 2000, que foi uma fase muito intensa da minha vida: infância, adolescência, começo da vida adulta. Toda essa mistura musical que eu vivi naquela época fez parte do que eu sou hoje”, explica.
O projeto nasceu, segundo ela, de uma saudade real. “Queria que quem escutasse sentisse essa conexão, essa mesma emoção. Para mim, os anos 2000 são esse lugar mágico onde a gente constrói as raízes que vão acompanhar a gente pra vida toda", diz ela.
Entre os momentos mais marcantes do projeto, estão os encontros no palco com nomes que moldaram a própria Luiza enquanto fã. Ao lado de Wanessa Camargo, Solange Almeida, Maria Cecília & Rodolfo e Luka, ela revive canções que embalaram a juventude de muita gente... inclusive a dela mesma. “Dividir o palco e o estúdio com eles foi mais do que uma honra, foi um presente. Não é só técnica ou voz, é sentimento, é história, é cumplicidade”, pontua.
"Essas colaborações representam amizade, respeito e muita sintonia. Eles não só aceitaram dividir comigo sucessos que são tão deles, como também se entregaram de coração naquele dia de gravação. Isso faz toda a diferença. Então, cada participação é uma lembrança viva daquele tempo, que eu tive a sorte de reviver junto com eles e agora dividir com todo mundo que escuta o Nostalgia Pura", celebra.
Com Maria Cecília & Rodolfo, a conexão é ainda mais íntima: foi cantando uma música da dupla que Luiza venceu seu primeiro concurso, aos 14 anos. Agora, juntos em “Todo Santo Dia”, fecham um ciclo de forma simbólica e emocionante.
Mas é ao falar de “Tailândia” que Luiza Martins revela um lado mais vulnerável e ainda mais potente. A faixa foi escrita após uma viagem de 20 dias com Marcela ao país asiático, e carrega uma das declarações mais sinceras que o sertanejo já ouviu. “Decidi deixar o celular de lado e aproveitar cada segundo desse descanso. Posso dizer que a Tailândia meio que salvou minha vida”, confessa.
"Foi um período de renovação, onde eu voltei a enxergar cores que tinham se apagado dentro de mim, e isso tudo junto com ela, que é minha companheira de vida, tornou tudo ainda mais incrível. A Tailândia é linda, mas o que fez aquela viagem tão mágica foi a gente estar juntas, vivendo dias lindos e cheios de amor", declara. Awn!
“Chamei meu amigo Daniel Ferreira pra compor comigo, e a música saiu muito rápido porque era um sentimento que não cabia mais dentro de mim. ‘Tailândia’ é um jeito de dizer para ela, e para o mundo, o quanto ela é amada. Uma homenagem em voz alta. Essa música mostra um lado meu mais romântico, mais vulnerável, e é uma fase da minha vida onde o amor é protagonista, e isso me inspira demais a criar e cantar de verdade", reflete a artista.
Falar de amor entre duas mulheres em um espaço dominado por narrativas heteronormativas não é tarefa simples. Mas Luiza encara o desafio com naturalidade e intenção. “O sertanejo está caminhando, sim, para um lugar mais aberto e acolhedor. Ainda temos muito a evoluir, mas o que importa, no final das contas, é o amor, independente de gênero, orientação ou qualquer rótulo", avalia.
"O que eu quero mostrar com meu trabalho, e especialmente com o projeto 'Nostalgia Pura', é que o amor é universal e merece ser celebrado em todas as suas formas, sem julgamentos ou fetichizações", completa. Para ela, levantar a bandeira LGBTQIAPN+ é mais do que uma missão pessoal, é uma forma de romper barreiras dentro e fora da indústria: “Mostrar que a gente pode cantar, emocionar e se conectar através do amor verdadeiro, com respeito e autenticidade. Isso sim é música de verdade".
"O sertanejo é uma música do povo, das emoções genuínas, e acredito que ele tem espaço para abraçar todas essas narrativas, celebrando a diversidade e o que realmente importa: o sentimento que toca o coração", opina.
Após quase uma década de carreira (cinco deles ao lado de Maurílio, seu parceiro musical falecido em 2021), Luiza vive hoje um momento de equilíbrio entre reverência e protagonismo. “Já me reconheço como uma artista com voz própria, com identidade, mas sempre aberta ao aprendizado”, afirma. “O ‘Nostalgia Pura’ foi uma forma de honrar todas aquelas vozes fortes que me inspiraram lá atrás e mostrar quem eu sou agora".
"Esses anos 2000, que eu tanto amo e que fizeram parte da minha formação musical e pessoal, me ajudaram a construir essa base sólida que hoje me permite ser mais segura no palco e nas minhas escolhas. Acho que estou nesse equilíbrio: firme na minha afirmação, mas com muita vontade de crescer ainda mais", conclui. E se depender da coragem e do talento, ela vai conseguir e muito.
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