A notícia de que a Seleção Brasileira pode trocar seu tradicional uniforme azul por um modelo vermelho para a Copa do Mundo de 2026 provocou uma enxurrada de reações. Entre os críticos mais enfáticos está o icônico narrador Galvão Bueno, que classificou a mudança como “um crime” contra a história do futebol brasileiro.
A polêmica teve início após a revelação do site Footy Headlines, especializado em vazamentos de materiais esportivos, de que a Nike — por meio da marca Jordan — planeja lançar uma nova camisa 2 em tom vermelho vibrante. A substituição da clássica camisa azul, usada desde a histórica Copa de 1958, causou indignação entre torcedores e personalidades do esporte.
“Apareceu alguém para cometer aquilo que eu considero ser um crime. Pra Copa do Mundo de 2026, a camisa azul vai deixar de existir e vai ser vermelha. O que tem isso a ver com a Seleção Brasileira?”, disparou Galvão durante o programa "Galvão e Amigos", exibido na Band. O narrador ainda ressaltou sua autoridade no assunto, lembrando que transmitiu 52 jogos da Seleção ao longo de sua carreira.
A camisa azul da Seleção Brasileira não é apenas um uniforme alternativo: ela carrega uma história mística e vitoriosa. Criada às pressas para a final da Copa do Mundo de 1958 contra a Suécia — por conta do uniforme amarelo dos adversários — a peça foi inspirada no manto de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. A estreia não poderia ter sido mais gloriosa: o Brasil venceu por 5 a 2 e conquistou seu primeiro título mundial. Desde então, o “manto azul” se tornou símbolo de fé, superstição e conquistas.
A eventual ruptura com essa tradição acende o debate entre inovação e respeito à memória esportiva. Para Galvão, a mudança ignora o peso emocional da camisa azul. “A história do futebol brasileiro é muito séria, muito rica... Eu acho que tenho algum direito de falar, mesmo não tendo a honra de vestir”, afirmou o narrador, visivelmente incomodado.
Além da comoção popular, há uma questão institucional em jogo. O estatuto da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em seu artigo 13, inciso III, determina que os uniformes da Seleção devem utilizar as cores da bandeira da entidade: verde, amarelo, azul e branco. O uso de cores diferentes só é permitido em ocasiões comemorativas, mediante aprovação da diretoria.
Exemplo disso foi a camisa preta usada em 2023 em homenagem ao combate ao racismo, durante um amistoso contra Guiné. Nesse caso, a mudança foi previamente autorizada e tinha caráter simbólico.
Até o momento, nem a Nike nem a CBF confirmaram oficialmente a nova cor. Contudo, a pressão popular e a interpretação do estatuto podem ser obstáculos à adoção definitiva do vermelho como segundo uniforme.
Apesar da movimentação para o novo uniforme, vale lembrar que o Brasil ainda não garantiu sua vaga na Copa do Mundo de 2026. Atualmente, a Seleção ocupa o quarto lugar nas Eliminatórias Sul-Americanas, com 21 pontos. Os seis primeiros se classificam diretamente, enquanto o sétimo disputa uma repescagem.
A proposta de modernizar o visual da Seleção, talvez visando apelo internacional ou comercial, esbarra na identidade construída ao longo de décadas. Para muitos, trocar o azul por vermelho pode soar como uma tentativa de "rebranding" que ignora o valor simbólico do passado. E para Galvão Bueno e uma parcela expressiva da torcida, a camisa azul não é só uniforme: é um pedaço da alma do futebol brasileiro.