Muito antes de se tornar advogado de celebridades e enfrentar batalhas judiciais em nome de artistas na luta por dignidade e respeito, Ricardo Brajterman já era alguém presente na vida de Preta Gil. Em um emocionante resgate nas redes sociais no domingo (20), o criminalista relembrou os tempos de infância em que convivia com a cantora, quando ambos estudavam no tradicional Colégio Andrews, no Rio de Janeiro.
“Te conheci pirralha”, escreveu, ao comentar uma antiga matéria que destacava um dos episódios mais emblemáticos da relação entre os dois: o processo movido por Preta contra a RedeTV! pelo conteúdo gordofóbico do programa "Pânico na TV". “Estudava na mesma sala do seu querido irmão Pedro Gil, o melhor baterista e goleiro que conheci”, escreveu Brajterman em seu Instagram. “Mais tarde tive a oportunidade de te proteger nos tribunais. Te amarei para sempre!”.
Em 2008, Preta Gil foi vítima de uma encenação ofensiva no humorístico "Pânico na TV", que recriou sua queda na praia de Ipanema com um ator homem, obeso, usando peruca e sendo retirado do mar por um trator. A sátira ainda usava uma paródia da música “Tieta”, de Caetano Veloso, com versos que ridicularizavam a aparência da cantora: "são os buracos da lua na bunda da Preta". A cena foi amplamente criticada e considerada humilhante.
Com atuação de Brajterman, a cantora moveu ação por danos morais e venceu: a Justiça condenou o programa e a RedeTV! ao pagamento de R$ 100 mil de indenização. O caso teve grande repercussão na época e resultou numa proibição: por 17 anos, a emissora não pôde sequer mencionar o nome da artista em sua programação - veto que só foi quebrado após sua morte, em julho de 2025.
Em outro episódio marcante, Preta Gil se viu no centro de uma polêmica nacional ao protagonizar, ainda em 2011, um confronto jurídico e ideológico com o então deputado federal Jair Bolsonaro. Durante participação no programa "CQC", da Band, Bolsonaro respondeu a uma pergunta da cantora afirmando que seus filhos não corriam “risco” de se apaixonar por mulheres negras porque haviam sido “muito bem educados”.
A resposta racista e homofóbica causou indignação pública e levou Preta, novamente com apoio de Brajterman, a mover ações tanto na esfera criminal quanto cível. O advogado anunciou representação ao Ministério Público por crime de intolerância racial e homofobia, além de uma ação por danos morais na Justiça do Rio de Janeiro e notificação à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Preta Gil ficou profundamente abalada e se manifestou nas redes sociais: “Sou uma mulher negra, forte e irei até o fim contra esse deputado, racista, homofóbico, nojento”. Figuras públicas como Luciano Huck e o então deputado Jean Wyllys saíram em sua defesa.
Ricardo Brajterman sempre foi conhecido por defender nomes de peso do entretenimento em causas ligadas a danos morais, como Carolina Dieckmmann, Luana Piovani e Dado Dolabella. Mas foi com Preta que a conexão ultrapassou a esfera profissional. O advogado contou que frequentava a casa da família Gil na juventude, onde o irmão de Preta, Pedro, ensaiava bateria ao lado do pai, Gilberto Gil.
Pedro, que morreu jovem em um acidente de carro, era um amigo querido e uma figura protetora: “Eu era baixinho, e o gigante goleiro Pedrão me protegia de eventual bullying”, relatou em entrevista à Veja Rio. Com o passar dos anos, Brajterman passou a ser o defensor da irmã de Pedro. Para ele, Preta Gil se tornou uma mulher “à frente do seu tempo”, uma inspiração para milhões de mulheres por sua autenticidade e coragem.
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