Enquanto vídeos na internet questionam o tamanho da eficácia da creatina para os músculos e a ciência mostra que o efeito para o público em geral pode não ser tão vantajoso quanto muitos influenciadores propagam, alguns profissionais indicam, erroneamente, misturar a creatina com cremes para posterior aplicação na pele.
“Sem controle microbiológico e conservantes adequados, com essa mistura há aumento significativo da chance de contaminação do produto, o que pode levar a irritações, alergias, dermatites e, em casos mais graves, infecções cutâneas”, explica a dermatologista Dra. Leiliane Bregalda Alves, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-RESP).
“Alguns estudos em cultura de células mostram benefícios da creatina para a pele, mas as evidências ainda não são conclusivas e serão necessários muitos trabalhos em humanos para confirmar se esses benefícios são realmente reais. De qualquer maneira, essa manipulação em casa é um risco”, completa o dermatologista Dr. Daniel Cassiano, diretor de comunicação da SBD-RESP.
Segundo a Dra. Leiliane, a creatina é um composto orgânico naturalmente produzido pelo nosso corpo, a partir de três aminoácidos: arginina, glicina e metionina.
“Sua síntese ocorre principalmente no fígado, pâncreas e rins. Após produzida, ela é armazenada em grande parte nos músculos esqueléticos, onde atua como um reservatório de energia rápida, especialmente durante esforços físicos intensos e de curta duração”, diz a médica.
No entanto, sua atuação não se limitaria aos músculos: a creatina também está presente no cérebro, coração e na pele.
Estudos mais recentes identificaram que as células da epiderme, camada mais superficial da pele, também utilizam creatina como fonte de energia celular. Além de contribuir para o metabolismo energético, a creatina tópica poderia exercer ação antioxidante e protetora contra o estresse oxidativo, que é um dos principais fatores envolvidos no envelhecimento cutâneo
“Entretanto, é importante esclarecer: isso não significa que misturar creatina em pó (geralmente de uso oral) em cremes caseiros trará esses benefícios. Pelo contrário”, esclarece a médica.
Segundo o Dr. Daniel, como a creatina é hidrossolúvel (solúvel em água), misturar em um creme cosmético, cuja base costuma ser predominantemente oleosa ou em emulsão complexa, tornaria a incorporação da creatina instável.
“Mesmo que os benefícios sejam confirmados por estudos de qualidade, o ativo utilizado seria estabilizado em uma fórmula cosmética”, esclarece o dermatologista.
“Para que ela seja realmente eficaz, é necessário que esteja em veículos dermatologicamente apropriados, com pH controlado, compatibilidade com os demais ingredientes e concentração adequada, algo que só pode ser garantido por profissionais habilitados e laboratórios especializados”, diz a Dra. Leiliane.
O diretor da SBD-RESP explica que os malefícios para a pele com a manipulação caseira provêm justamente da contaminação dos cremes.
“As irritações cutâneas podem surgir devido ao desequilíbrio do pH ou à presença de partículas não completamente solubilizadas; as reações alérgicas podem ser causadas por substâncias que, quando aplicadas de forma inadequada ou em excesso, ultrapassam a barreira da pele e ativam o sistema imunológico; e as infecções por contaminação microbiológica ocorrem pois não há um processo asséptico nem conservantes em dose apropriada para prevenir a proliferação de fungos e bactérias”, esclarece o dermatologista.
“Portanto, embora a creatina seja um ativo promissor quando bem formulado, não é indicado utilizar creatina de forma caseira no skincare”, diz a Dra. Leiliane.
“Qualquer pessoa que tenha interesse em produtos que contenham esse ou outros ativos com ação anti-idade, o mais seguro e eficaz é buscar orientação dermatológica para indicações personalizadas e seguras”, finaliza o Dr. Daniel Cassiano.
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