A eleição de Fernando Collor de Mello para a Presidência da República no final de 1989 contou com ajuda de uma épica novela da Globo, cuja uma afiliada em Alagoas pertence ao político e está envolvida em escândalo. A afirmação foi feita por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-vice presidente da emissora em seu segundo livro de memórias, "O Lado B de Boni".
A novela em questão foi "Que Rei Sou Eu?", exibida entre fevereiro e setembro de 1989 na faixa das sete, com autoria de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), estrelada por Edson Celulari, e que se passava no fictício Reino de Avilan por volta do ano de 1790. "O povo miserável vive às voltas com governantes corruptos, sucessivos planos econômicos, moeda desvalorizada e altos impostos", diz a TV em seu canal "Memória Globo".
Na época nem se imaginaria que Collor confiscaria os valores depositados na caderneta de poupança assim que assumiu a Presidência ao lançar um plano econômico com seu sobrenome e que geraria uma grave crise, levando a Globo a tomar uma medida bizarra em gravação de outra novela.
Segundo Boni, Cassiano desde 1975 tinha a ideia de uma novela com capa e espada e sátira ao regime da época, porém o projeto não saiu do papel por conta da Ditadura militar. "Assim que 'Roque Santeiro' foi ao ar (em 1985, uma década após ser alvo da censura), liguei para o Cassiano: Agora podemos ir com o 'Que Rei Sou Eu?'", explicou o pai de Boninho.
Na trama, foi popularizada a expressão "marajá", nome de uma novela produzida em 1993 após Collor sofrer o processo impeachment e que acabaria vetada pela Justiça. Em mais de 30 anos, a produção da Manchete, igualmente uma sátira, jamais foi ao ar.
"O Cassiano criou a expressão ‘marajás’ para os ricaços corruptos da novela, e não se sabe de fato, mas parece que foi da novela que o Fernando Collor tirou a expressão de sua campanha ‘caça aos marajás’. O fato é que, mesmo sem qualquer intenção, a novela do Cassiano acabou ajudando o candidato", prosseguiu Boni no livro citando o político que ocupou o Palácio entre 1990 e 1992 e que acabaria acusado de praticar "rituais" contra Silvio Santos (1930-2024).
Vale lembrar o dono do SBT lançou sua candidatura à Presidência, porém acabou impedido de concorrer dias mais tarde. Aquela eleição reuniu ainda nomes como Lula, Paulo Maluf, Mário Covas (1930-2001), Enéas Carneiro (1938-2007) e Leonel Brizola (1922-2004).