De 'partos' de bebês reborn à 'adoção' por Padre Fábio de Melo: fenômeno dos bonecos viraliza, e psicanalista analisa os impactos desse comportamento
Publicado em 25 de abril de 2025 às 22:15
Por Pedro Henrique Cabo | Colaborador
Geek fashionista que canta 'Let It Go' no chuveiro, trata 'O Diabo Veste Prada' como religião e escolheu Piplup como seu inicial. Jornalista metido a designer, cinéfilo de Letterboxd e amante das artes.
Moda nas redes, os bonecos hiper-realistas ganham certidão, passaporte e até ‘maternidade’, enquanto dividem opiniões e levantam debates sobre saúde mental, afeto e solidão
De 'partos' de bebês reborn à 'adoção' por Padre Fábio de Melo: fenômeno dos bonecos viraliza, e psicanalista analisa os impactos desse comportamento Carol Sweet simula parto completo com bisturi, placenta e líquido amniótico em vídeo que virou fenômeno digital. O boneco “Gui” da influenciadora Nane Reborn A influenciadora Nane Reborn participou do programa Superpop ao lado de Luciana Gimenez e celebrou o momento nas redes Padre Fábio de Melo está curtindo uns dias de folga nos Estados Unidos, e visitou recentemente a Maternidade de Bonecas da MacroBaby, em Orlando, na Flórida
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Se você ainda não viu nenhuma mãe embalando um bebê reborn no TikTok como se fosse recém-saído da maternidade, prepare-se: o algoritmo vai te encontrar. A febre dos bonecos ultrarrealistas, que já tem décadas de história, ganhou uma nova e surpreendente roupagem digital — com “partos” cenográficos, “certidões de nascimento” e até “adoções” por celebridades como Padre Fábio de Melo.

Mas até onde vai esse faz de conta?

'Partos' encenados virais e 'adoção' de um reborn por Padre Fábio de Melo

Em um dos vídeos mais comentados da semana, a influenciadora Carol Sweet encenou o nascimento de uma bebê reborn, com direito a bisturi, luvas cirúrgicas, placenta cenográfica e líquido amniótico fake. O vídeo, publicado no Instagram e TikTok, já ultrapassou 3,6 milhões de visualizações e causou um misto de fascínio e desconforto.

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Até mesmo figuras públicas estão entrando na onda. Em viagem recente aos Estados Unidos, o padre Fábio de Melo visitou a loja MacroBaby, em Orlando — uma espécie de “maternidade de bonecas” — e “adotou” uma reborn com Síndrome de Down, em homenagem à mãe, Ana Maria de Melo, falecida em 2021.

“Ela já tem passaporte, visto americano e até brasileiro. Já pode vir para o Brasil!”, disse o religioso, em tom bem-humorado. O gesto emocionou muitos seguidores, mas também levantou sobrancelhas sobre os limites entre afeto simbólico e alienação emocional.

Psicanalista analisa: 'Estamos em um pesadelo cognitivo'

Para o psicanalista Arnaldo Chuster, a tendência revela algo mais profundo — e preocupante.

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“A tendência é cada vez encontrarmos pessoas que estão perdendo a capacidade de pensar, por muitas razões, entre elas, o excesso de IA e os modismos”, afirma Chuster. “Quando se perde a capacidade de pensar, também se perde a de sentir e de se relacionar com seres humanos.”

Segundo ele, o fenômeno é um reflexo de uma era marcada pela superficialidade emocional e pela substituição do afeto real por experiências controladas e estetizadas:

“É um enorme faz de conta infantil, atuado por pessoas sem capacidade simbólica autônoma e com imaginação pouco flexível para lidar com seres humanos”, conclui.

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Uma comunidade entusiasmada

A hashtag #maedereborn já ultrapassa milhões de visualizações no TikTok. Vídeos com “trocas de fralda”, passeios no carrinho, aniversários simbólicos e encontros presenciais entre “mães reborn” são cada vez mais frequentes. Em São Paulo, por exemplo, o Parque do Ibirapuera foi palco de um encontro com dezenas de entusiastas e seus “filhos”, com direito a sorteios e concurso de fantasias.

A influenciadora Nane Reborn mostrou tudo em seu perfil: “Já tá todo mundo aqui no encontro, as meninas aqui conversando e têm muitos bebezinhos”, disse, referindo-se ao seu boneco “Gui” como se fosse seu filho de verdade.

Fuga ou ferramenta? O dilema do reborn

Enquanto alguns especialistas apontam os reborns como forma de escapismo e despersonalização afetiva, outros defendem seu potencial terapêutico e reconfortante. O que é inegável é o poder de engajamento que esses bonecos conquistaram nas redes — e a força emocional que representam para milhares de pessoas.

No fim das contas, talvez o mais perturbador não seja o realismo dos bonecos, mas a intensidade com que tantos adultos decidiram tratar o “brincar de casinha” como realidade alternativa. E, como qualquer outro fenômeno viral, cabe a nós decidir: estamos assistindo a um novo tipo de performance... ou perdendo o fio da meada?

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