O mistério que movimentou todas as rodas de conversa do Brasil está de volta após 37 anos: quem matou Odete Roitman? A cena do assassinato da vilã, vivida atualmente por Debora Bloch, vai ao ar nesta segunda-feira (06) em “Vale Tudo”.
O Purepeople convidou pessoas que viveram o fenômeno em 1988. Unanimemente, todas repetem a frase que parece o clichê, mas entrega a repercussão sem precedentes da novela de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères: “a morte de Odete parou o Brasil”.
“Sem rede social, cada parte da história que se desenrolava era tema de todo bate-papo que tinha. Eu lembro de adultos, adolescentes e crianças falando sobre isso”, recorda o policial civil Reinaldo Leal, com 14 anos na época. “Eu era muito nova [11 anos], mas me lembro da família toda reunida na sala pra assistir”, conta a auxiliar administrativa Danielle Silveira.
Antes mesmo de o remake estrear, “Vale Tudo” se tornou uma paixão que, graças ao advento do streaming, passou de mãe para filho, como aconteceu com Marta Ribeiro, que tinha 17 anos na época da exibição original.
“Quando teve a primeira reprise no Canal Viva, falei pro meu filho: ‘Vinicius, você vai ter que ver comigo, porque não tem igual’. Igual a mim, ele se apaixonou pela novela. Inclusive, eu tô vendo a ‘Vale Tudo’ nova junto com a original”, relata a comerciante.
De técnico de futebol e comentarista de novela, todo brasileiro tem um pouco. Eram variados os palpites para o assassino de Odete, afinal, o que a vilã mais fez foi dar motivos para ser morta ao longo da trama.
“Eu não imaginava, porque podia ser qualquer pessoa. Mas eu suspeitava do mordomo [Eugênio]. Fiquei pasma quando descobri que foi a Leila”, relembra a técnica de enfermagem Loyde Souza. Danielle concordava com o palpite: “O Eugênio venerava a Heleninha e poderia matar Odete, por todas as maldades cometidas por ela com a filha.”
A comoção em torno do mistério foi tanta que mobilizou rifas, sorteios e até bancas de jogo do bicho para apostas sobre o assassino. O pai da artesã Zilanda, com 15 anos na época, participou de um bolão, mas não levou nada. “A gente suspeitava da Heleninha pelas maldades da mãe. Meu pai suspeitava do Marco Aurélio porque era o personagem mais óbvio.”
A própria TV Globo realizou um sorteio com patrocínio da marca de temperos Maggi. Cinco pessoas que acertaram o palpite foram agraciadas com um prêmio de 1 milhão de cruzados e uma pessoa recebeu sozinha 5 milhões. O resultado foi apresentado ao vivo por César Filho logo após o encerramento da novela.
A emissora recebeu mais de 2 milhões de cartas. A principal aposta foi Eugênio: 24% dos espectadores acreditavam que o mordomo era o assassino. Apenas 5% apostavam em Leila, a quinta da lista. Neste seleto grupo, estava a mãe de Reinaldo. Ela enviou a carta para a promoção, mas não teve a sorte de levar o prêmio final.
“Eu incentivei minha mãe a mandar porque ela tinha certeza que tinha sido a Leila. A gente viu a carta que a minha mãe mandou sendo jogada pro alto. Ela enviou em um envelope de papel pardo grande. A grande maioria das cartas eram no envelope branco tradicional e tinha um do mesmo tipo que minha mãe mandou no meio”, comenta o policial, convidado por Gloria Perez para a novela “A Força do Querer” por ter investigado Bibi Perigosa junto de sua equipe.
E como a mãe de Reinaldo tinha tanta certeza que Leila era a responsável pelo crime? “Ela já tinha assistido a uma novela que tinha a pergunta: ‘quem matou Salomão Ayala?’ [‘O Astro’, de 1977]. Foi um frenesi, ela já tinha vivenciado essa questão. Ela sempre falava que não seria nada óbvio. Ela cismou com a Leila. A questão principal foi ciúme, de acreditar que o Marco Aurélio tinha um caso.”
A ideia inicial era que Marco Aurélio matasse a vilã, mas a informação vazou para uma revista e os autores decidiram mudar. Além de Leila, mais quatro personagens gravaram a cena do tiro: César, amante da vilã; Olavo, parceiro de César; Queiroz, sócio de Renato; e Bruno, filho de Leila e Ivan.
A escolha bastante improvável foi recebida com surpresa e até com frustração entre muitos espectadores. “A Leila era uma mosca morta, que achava que só seria feliz se tivesse um homem. Fiquei boba, vi, mas não acreditei. Eu lembro da cena como se fosse hoje. Foi impressionante ela alvejando a Odete achando que era a Fátima”, diz Loyde. “Lá em casa, ninguém gostou”, acrescenta Zilanda.
Danielle descreve a descoberta como “totalmente decepcionante”: “Tinham tantos personagens com motivos pra matar Odete e acabou sendo uma personagem que não tinha motivos. Foi um crime passional”. Reinaldo destoa das outras espectadoras: “Não foi essas saídas mirabolantes de autor. Encaixava perfeitamente na trama.”
Para evitar grandes surpresas, os espectadores ouvidos pelo Purepeople desejam que, dessa vez, o assassino de Odete tenha motivos mais plausíveis. Loyde aposta em Heleninha: “Justiça com as próprias mãos, por tudo de ruim que a mãe fez para ela”. Danielle torce por uma reviravolta que permita que Leonardo cometa o crime: “Leonardo tem todos os motivos do mundo pra matar a mãe”. Celina ou César são o desejo de Zilanda.
Crítica das muitas mudanças promovidas pela autora Manuela Dias, Marta acredita que, novamente, a escolha será pouco provável. “[A novela] foi para um lado que eu não gostei. Tô acompanhado, vejo todo dia e não consigo imaginar quem será o assassino da Odete. Vai acabar que, nessa versão, será uma pessoa que nem faz parte do núcleo. De tão enrolada que tá essa novela”, detonou.
Ao longo dos últimos capítulos, diversos personagens têm soltado frases que os colocam como suspeitos. César propôs uma lista com “10 maneiras de matar Odete Roitman”; após descobrir que o sobrinho Leonardo está vivo, Celina gritou em alto e bom som que “vai matar” a irmã; Alexandre Nero gravou recentemente uma cena em que Marco Aurélio é preso pela Polícia; Maria de Fátima vai entrar na lista, mas não deve ter um final diferente da primeira versão.
Segundo documento divulgado pela Globo para o mercado publicitário, um suspeito será preso no capítulo do dia 13 de outubro. A expectativa é que seja um engano e o assassino seja revelado apenas no final. Até lá, permanece o nostálgico mistério que marcou uma geração e promete novamente unir famílias na sala de casa.
