Mais uma perda para o meio artístico. A transformista, atriz e cantora Jane Di Castro morreu nesta sexta-feira (23) aos 73 anos de câncer. Vista atualmente na reprise da novela "A Força do Querer", a artista estava internada no Hospital de Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro. Dona de um salão de beleza, Jane Di Castro atuou no elenco do musical "Divinas Divas", que gerou um documentário de mesmo nome assinado por Leandra Leal. Há duas semanas, Cecil Thiré foi encontrado morto em sua casa, e no final de agosto um problema renal vitimou o compositor Arnaldo Saccomani. Ainda nesse ano as artes já haviam perdido o diretor de novelas Del Rangel e os atores Flavio Migliaccio e Daisy Lúcidi.
Engajada em causas LBTQI+, Jane teve sua morte lamentada por colegas de profissão. Diretor da artista no seriado "Pé na Cova", Miguel Falabella disse: "Vai fazer muita falta. Vou guardar comigo sua alegria, seu comprometimento e sua coragem de ser quem você resolveu ser quando direitos civis eram inexistentes (...). Espero que Rogéria (morta aos 74 anos em 2017) tenha ido espera-la nos portões da eternidade". "Ah, que tristeza...", resumiu o escritor Ivam Cabral. "É uma surpresa muito dolorosa, porque até semana passada, a gente viu a nossa cena indo ao ar. E comentamos através do Facebook que estávamos felizes com a reprise. Mas eu não sabia que ela estava doente. Mas o que tenho a dizer é que Jane é uma estrela e sempre foi uma pessoa muito a generosa e afetuosa", afirmou ao jornal "Extra" Silvero Pereira, que dividiu a cena com Jane na trama de Gloria Perez.
Nascida Luiz de Castro em 7 de abril de 1947 em Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio, Jane recordou várias vezes ter sofrido repressão dos pais (uma evangélica e um militar) por ser travesti. Duas décadas depois a futura artista passou a trabalhar como cabeleireira. Em 1966 debutou no Teatro Dulcina no primeiro espetáculo liberado pela censura e que reunia homens vestidos de mulheres, e na década de 1970 adotou o nome artístico, mas acabaria perseguida pela Ditadura. Já em 2001 montou seu salão de beleza. Subiu aos palcos com "Gay Fantasy", dirigida por Bibi Ferreira - morta no ano passado - e responsável pelo seu nome artístico. Foi casada com Otávio Bonfim por mais de 51 anos até a morte dele em 2018. Em entrevista, lembrou ter sido a primeira transexual a cantar o Hino Nacional brasileiro em evento LGBT. "Sempre fiz parte do universo feminino, o masculino nunca fez a minha cabeça, eu gostava de usar batom, salto alto, vestidos", recordou.
(por Guilherme Guidorizzi)