
A guerra comercial entre Estados Unidos e China acaba de ganhar um novo e turbulento capítulo. Na tarde desta quarta-feira (9), o presidente norte-americano Donald Trump, que tem obsessão por bronzeamento, por meio da Truth Social — sua própria rede social, equivalente ao antigo Twitter, agora chamado de X — o aumento imediato das tarifas sobre produtos chineses para impressionantes 125%. A medida, segundo ele, é uma resposta à “falta de respeito da China aos mercados mundiais”.
“Estou aumentando a tarifa cobrada da China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato”, declarou Trump em um tom combativo.
O anúncio ocorre poucos dias após Pequim retaliar o tarifaço inicial de Washington com uma alíquota de 84% sobre produtos norte-americanos. O governo chinês, em resposta à nova escalada, já prometeu reagir "até o fim", acirrando ainda mais a tensão entre as duas maiores economias do planeta.

Curiosamente, ao mesmo tempo em que endurece o tom com a China, Trump abriu espaço para o alívio: reduziu para 10% as tarifas de importação aplicadas a outros países por um período de 90 dias. Segundo o presidente, mais de 75 nações procuraram os EUA para negociar acordos comerciais desde o início da nova política tarifária, implementada no dia 2 de abril.
“Autorizei uma pausa de 90 dias e uma tarifa recíproca substancialmente reduzida durante esse período, de 10%, também com efeito imediato”, afirmou.
A decisão de Trump levou o governo chinês a lembrar um episódio sombrio da história econômica mundial. Em comunicado, Pequim comparou a nova política tarifária dos EUA à famosa Lei Smoot-Hawley de 1930 — medida protecionista americana que, segundo historiadores, agravou a Grande Depressão.

“As Tarifas Recíprocas correm o risco de abrir novamente a Caixa de Pandora”, declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning.
Além disso, autoridades chinesas acusaram os EUA de "bullying" e "atos intimidatórios", afirmando que a China “jamais aceitará tais atos hegemônicos”. Trump, por sua vez, acusou os chineses de manipular a moeda e “passar a perna” nos EUA há décadas.
Durante um jantar com líderes republicanos na última terça-feira (8), Trump revelou o tom informal e agressivo das conversas diplomáticas com outros países:

“Esses países estão puxando meu saco. Estão doidos para fazer um acordo”, afirmou, usando a expressão em inglês "kissing my ass".
Segundo o ex-presidente, agora em campanha pela reeleição em 2024, a nova postura dos EUA é parte de um reposicionamento geopolítico que visa restaurar o que ele chama de “justiça comercial”.
A escalada das tarifas não aconteceu da noite para o dia. Veja como os EUA chegaram ao número atual:

- Fevereiro: uma nova tarifa de 10% foi adicionada aos 10% já existentes, somando 20%;
- 2 de abril: Trump anunciou uma taxa extra de 34%, elevando o total a 54%;
- Retaliação chinesa: Pequim respondeu com tarifas de 34% sobre produtos americanos;
- 5 de abril: Washington anunciou mais 50% em tarifas;
- 9 de abril: Trump aumentou para 125%, a maior tarifa já registrada contra um país específico nesta nova era comercial.
Embora o embate seja entre Estados Unidos e China, os efeitos da guerra comercial já começam a ser sentidos no Brasil. Especialistas alertam que o tarifaço pode afetar diretamente setores como o agronegócio, a indústria e o comércio exterior.
Com a tarifa de 125%, produtos chineses tendem a ficar mais caros nos EUA, abrindo espaço para outros países — como o Brasil — ganharem competitividade em áreas como soja, carne e minerais. No entanto, esse possível "benefício" vem acompanhado de riscos.
Caso a China redirecione seus produtos antes destinados aos EUA para outros mercados, incluindo a América Latina, empresas brasileiras podem enfrentar concorrência desleal em seus próprios territórios, pressionando preços e margens de lucro.

Além disso, uma desaceleração global causada pela tensão prolongada entre as duas potências pode afetar negativamente as exportações brasileiras, o dólar e os investimentos estrangeiros.
“O Brasil pode ganhar no curto prazo em alguns setores, mas os riscos de médio e longo prazo são grandes. Essa instabilidade prejudica previsibilidade, investimentos e segurança nas trocas comerciais”, afirma a economista Mariana Passos, da FGV.
Ou seja: o efeito dominó da guerra comercial não respeita fronteiras. E o Brasil, como economia globalizada, sente cada peça que cai.