Por trás do glamour das novelas e dos programas de auditório, existe um cenário de bastidores que nem sempre é tão reluzente quanto as câmeras fazem parecer. A TV brasileira já foi palco de despedidas amargas, rompimentos silenciosos e brigas públicas que deixaram marcas profundas em alguns de seus maiores talentos.
Reunimos histórias de 20 artistas que, por diferentes razões, romperam laços com Globo ou Record e não esconderam a mágoa... alguns levando o ressentimento até o fim da vida.
Marcello Antony afirmou à revista Veja que sua “inimizade” com a TV Globo começou quando, no auge da carreira, recusou um papel em "A Favorita", novela das nove da emissora, (de João Emanuel Carneiro, sob direção de Ricardo Waddington) para atuar no remake de "Ciranda de Pedra", novela das seis. Segundo ele, a escolha foi por querer fugir do centro das atenções e buscar um ritmo mais tranquilo, mas a decisão contrariou os dois, que passaram a vetá-lo de trabalhos futuros.
O ator, diz que os egos na emissora enterraram qualquer possibilidade de novos convites com essa dupla e que, embora tenha feito grandes novelas, sua relação com a Globo nunca mais foi a mesma. “Fui numa reunião com o Mário Lúcio Vaz e pedi para fazer a novela dasseis. E ele: ‘Marcelo, estou há não sei quantos anos na Globo. Você é oprimeiro que me pede para fazer novela das seis e não das oito’. Aí ele liberou. Só que nisso criei inimizades”, revelou.
Em entrevista ao canal do YouTube do site "Brasil de Fato", o intérprete de Agostinho Carrara em "A Grande Família", Pedro Cardoso expôs uma mágoa gigantesca com a emissora. “[Tenho] absoluta mágoa. Não pela maneira como saí, a minha mágoa é contra o poder. A TV Globo não tem abertura para o projeto de um ator”, disse ele.
Cardoso revelou que o "plim-plim" não lhe permitiu produzir um programa próprio, mesmo após anos de sucesso com o seriado. "Eu me queixo até hoje da TV Globo em relação a isso com o resultado que eu dei econômico para ela, ela tinha o dever social de ter se interessado pelo meu universo criativo, foi uma mediocridade administrativa, e uma habilidade ideológica”, expressou.
Já para o portal UOL, ele afirmou que a "treta" está relacionada a fatores políticos. "Para comparecer aos programas da Globo, tem que ser ideologicamente
submisso. Não vou lá na Globo ouvir que o golpe militar de 1964 não foi um golpe, foi um movimento. Se me dissessem isso, falaria que não, que
foi golpe. Ninguém gosta do que eu falo. O que falo desagrada a todo o poder econômico", expressou.
Rafael Cardoso, que trabalhou na TV Globo de 2008 a 2023, rompeu de vez com a emissora após críticas públicas nas redes sociais. Ao compartilhar um vídeo institucional da Globo elogiando o SUS, o ator ironizou a narrativa, chamando a empresa de “Rede Esgoto” e contrapondo a propaganda com notícias sobre mortes por falta de atendimento na rede pública. A postagem gerou forte reação de internautas, que o acusaram de ingratidão e relembraram medidas protetivas que o impedem de se aproximar da ex-mulher e da ex-sogra.
Em entrevistas, Rafael explicou que deixou a Globo por enfrentar depressão profunda e aumento do uso de drogas, afirmando que não tinha condições emocionais de sustentar um personagem. O ator também fez críticas à dramaturgia da casa, classificando "Sol Nascente" como “fraquíssima” e “uma bosta”. Seu último trabalho foi "Terra e Paixão", em 2023.
A intérprete da icônica Odete Roitman, de "Vale Tudo", marcou a história da TV brasileira, mas nunca sentiu que a Globo retribuiu à altura. Sem contrato fixo, mesmo após papéis memoráveis, ela via colegas garantindo estabilidade enquanto seu nome aparecia apenas em convites esporádicos. Nos últimos anos, longe das grandes produções, dedicou-se a dar aulas de interpretação.
Em 2014, falou abertamente sobre essa sensação de descaso. "A Globo nunca me deu importância. Nunca fui contratada. Sempre trabalhei por obra. Por quê? Eles nunca me ofereceram, e eu não procurei. Os elencos de antigamente eram melhores. Hoje seria difícil fazer 'Água Viva' e 'Vale Tudo', por exemplo. As novelas do meu tempo eram muito boas. As de agora são mais fraquinhas. Ai, agora é que não me chamam mesmo depois de eu dizer isso", disse ela em uma entrevista ao Notícias da TV.
A estrela partiu em 2018, aos 92 anos, sem que a relação com a emissora fosse reconciliada.
Com uma carreira versátil, que transitava entre dramas e humor, Pedro Paulo Rangel sempre foi presença marcante na tela da Globo. Após atuar em "Amor Eterno Amor" (2012), afastou-se para cuidar da saúde, mas descobriu que seu retorno não seria bem-vindo.
Afastado por uma década, só voltou a ser cogitado pouco antes de sua morte, em 2022, quando integraria o elenco de "Amor Perfeito". Não houve tempo para a reaproximação e o ressentimento pela forma como foi descartado acompanhou-o até o fim.
Pioneira na teledramaturgia brasileira, Theresa Amayo viveu um dos episódios mais dolorosos de sua carreira ainda nos anos 1960. Escalada para protagonizar "Véu de Noiva", viu o papel ser repassado a Regina Duarte pouco antes das gravações. A troca, feita após a contratação da atriz pela Globo, deixou cicatrizes profundas. Apesar de seguir trabalhando em outros projetos, Theresa nunca apagou esse episódio da memória. Morreu em 2022, aos 88 anos, mantendo intacta a mágoa daquela substituição inesperada.
"Tudo estava pronto para eu começar a gravar, mas Regina Duarte acabou ganhando o papel. Fiquei tão magoada que não aceitei o papel principal de 'Verão Vermelho' (1969)", expressou, segundo o jornal Extra.
Sinônimo de humor irreverente, Paulo Silvino construiu personagens inesquecíveis no "Zorra Total". No entanto, nos últimos anos de trabalho, passou a aparecer cada vez menos, em quadros sem destaque. Amigos próximos contam que ele se sentia deixado de lado e desmotivado. Ao morrer, em 2016, aos 78 anos, carregava a frustração de não ter recebido da emissora o reconhecimento que acreditava merecer após décadas de dedicação.
Responsável por criar um universo inteiro de personagens, Chico Anysio foi, por décadas, um pilar do humor na Globo. Nos últimos anos, viu sua presença minguar e um de seus programas mais emblemáticos, A Escolinha do Professor Raimundo, sair do ar. Pessoas próximas relatam que ele se sentia afastado num momento em que ainda tinha muito a oferecer. Morreu em 2012, aos 80 anos, sem respostas para a decisão que o afastou do público.
Um dos maiores novelistas do país, Gilberto Braga desejava encerrar sua carreira com um novo sucesso, mas não conseguiu essa chance. Depois do desempenho abaixo do esperado de "Babilônia" (2015), a Globo arquivou três projetos seus, o que o deixou profundamente frustrado. Amigos contam que ele via esse retorno como uma questão pessoal e que sua autoestima profissional ficou abalada. Faleceu em 2021, aos 75 anos, sem ver sua última história chegar à TV.
Durante décadas, Jô Soares comandou um dos programas de entrevistas mais emblemáticos da TV brasileira. Com o fim do "Programa do Jô" em 2016, recebeu a proposta de voltar ao Jornal da Globo com uma coluna semanal, mas recusou por considerar um retrocesso. Segundo amigos, o afastamento definitivo dos estúdios foi um golpe duro. Faleceu em 2022, aos 84 anos, com a sensação de que ainda tinha muito a oferecer na televisão.
Veja mais nomes (incluindo os atores da Record TV) em nossa galeria acima!
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