Há 7 anos, Paulo Silvino, eternizado no imaginário popular como o inesquecível Severino, do bordão “cara, crachá”, e também como o divertido Lobichomem, ambos do programa humorístico Zorra Total, nos deixou. O artista morreu em 17 de agosto de 2017, aos 78 anos, vítima de um câncer no estômago.
Em 2 de novembro de 1993, o humorista, viveu um dos momentos mais dolorosos de sua vida. Seu filho, Flávio Silvino, então ator em ascensão, sofreu um grave acidente de carro na estrada de Araruama, Região dos Lagos do Rio de Janeiro.
Flávio, voltava em um Voyage de um sítio da família em Cabo Frio, quando foi atingido por um carro-forte da empresa Brink’s. Ele estava ao volante, acompanhado do irmão João Paulo, que dormia no banco do carona e saiu ileso. Na época, o jovem ator vivia o auge da carreira, após papéis de destaque nas novelas "Vamp" (1991) e "Deus nos Acuda" (1992), da TV Globo, e viajava pelo país para divulgar um disco de músicas românticas lançado pela Sony Music.
O impacto deixou Flávio com traumatismo crânio-encefálico e perda de tecido muscular no braço esquerdo. Ele foi levado para a Casa de Caridade de Araruama e operado pelo cirurgião Luís Carlos Pereira Silva, que passou três dias drenando o edema cerebral. Como a cidade não tinha UTI, foi transferido para a Clínica Santa Helena, em Cabo Frio.
Em entrevista à IstoÉ Gente, Paulo Silvino relembrou: “Mas desde que aconteceu o que não devia ter acontecido, que foi o acidente, tudo passou a dar certo”. Ele também contou que um motorista anônimo brigou para que o filho fosse socorrido, já que policiais militares, achando que ele estava morto, não queriam retirá-lo das ferragens.
A recuperação lenta e dolorosa do filho levou Paulo Silvino a escrever, em 1994, a peça "Brains", um monólogo sobre um pai aguardando a melhora do filho. A obra nunca chegou aos palcos. Na mesma entrevista, ele afirmou estar “em busca de patrocínio” para encená-la, mas anos depois admitiu que desistiu:
“Eu jamais faria isso. Já foi chato de escrever, imagina para encenar? Quem andou com essa peça na bagagem foi o (comediante) David Pinheiro, mas nunca mais falei sobre isso com ele. Sei que ele faria muito bem”, disse Paulo Silvino ao jornalista Ricardo Schott, no site Pop Fantasma, declaração também citada pela Billboard Brasil em julho de 2010.
O humorista explicou ainda que a peça “começa no dia em que o Flávio levou a porrada e vai até quando ele saiu do coma, um ano depois”.
Na época, Paulo Silvino participava da Escolinha do Professor Raimundo, na TV Globo, mas tirou licença para acompanhar o filho. Seis meses depois, o programa acabou e ele foi dispensado. O diretor de Produção Comercial da emissora, Ari Nogueira, ofereceu manter o pagamento do tratamento, mas o comediante recusou e pediu que Flávio fosse contratado, mesmo em coma.
“Não queria meu filho ligado à Globo por um tratamento de saúde”, afirmou. “O investimento deles vai ter retorno.”
O autor Manoel Carlos, em entrevista à IstoÉ Gente, reforçou: “Flávio era um dos campeões de cartas na Globo. Ele é um ator talentoso, bonito e inteligente, que quer voltar a ser útil”.
No ano 2000, após Flávio Silvino voltar às novelas em Laços de Família, Paulo Silvino e o diretor Mauricio Sherman planejaram sua participação no Zorra Total. A ideia era interpretá-lo como um “Frankenstein gato, feito com pedaços dos corpos de vários galãs”. Segundo Paulo, “ele ia comer todo mundo… 'Humor negro', claro”. O quadro, porém, nunca foi produzido.
O acidente e suas consequências permaneceram como um dos episódios mais marcantes na vida de Paulo Silvino. Mesmo sem levar a peça "Brains" ao palco, o humorista deixou registrado um raro momento de sua carreira em que a comédia deu lugar à reflexão e à dor — e que mostrou ao público um lado pouco conhecido de um dos maiores nomes do humor brasileiro.